Simplesmente existe algo na noite que me inspira. Na verdade são vários “algos”.
O silêncio. Quando se consegue escutar um cachorro latindo a quatorze quadras de distância; o mar rebentando as ondas na beira da praia, naquele constante e eterno, sem um propósito aparente.
O mistério. O fato de tornar desconhecido e intimidador tudo o que era facilmente distinguido e colorido. Essa simples mudança de tonalidades. Do azul atmosférico ao negro real. Essa é a verdade da noite. Ela mostra como tudo deveria ser. Na verdade, é como tudo realmente é, ao contrário dessa ilusão colorida e insuportável proporcionada por apenas um astro. Gigante para nós. Vital, sim, mas um ilusionista. Para o universo – real faceta da noite – o astro não passa de um infinitésimo. Algo menor que um grão de areia.
Já são duas e meia e eu sigo com a caneta (preta) na mão, pensando no amor distante, tentado pela pequena garrafa de cachaça, e mergulhado nos portões do cemitério ao lado dos guturais e riffs dos cowboys do inferno.