sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A razão da nação

O terror da comédia
O humor da tragédia
O drama do esporte
As jogadas da política
da moral e da ética

O aprofundamento do supérfluo
O raso do complexo
A opinião de quem não tem o que dizer
A plasticidade do intelecto
da arte e da educação

Misturado na hipocrisia
De quem tem o dom da palavra

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sem título


Não admite os próprios erros
Acha que nunca falha
Que é o sol do mundo
E que está acima da verdade
Nunca machuca
Sempre é machucado
Sempre é o melhor
Ele e os seus

Quando convém, uma aproximação
Cinco minutos
Dez minutos

Sempre melhor
Nunca falha
Quando faz
Esquiva e empurra

Sempre vítima
Sempre excluído
Sempre certo

Nunca errado

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Deus


O prazer de criar vidas
Que nunca se tornam de carne e osso

O prazer de criar destinos
E divertir-se com tais

Seja pelo sofrimento
Seja pela alegria

É como vomitar o que não se come
Nem a bile e o suco do estômago
E deixá-los atirados
Vivendo eternamente aquele ciclo doentio
Seja ele curto, médio ou longo

Enquanto isso eu sorrio e brindo
Pelo sofrimento ou pelo prazer

SOU EU QUEM ESCOLHE

E deles, faço o que quero

Exatamente como o Verdadeiro

I Poetas de Pijama da Furg

Caros amigos leitores,

Eu, em conjunto com a Mayara Floss, dona do blog "Entre-Primos"(http://entre-primos.blogspot.com.br/) estamos coordenando um livro do grupo "Poetas de Pijama da FURG). O livro consistirá em 220 de poemas, crônicas e contos. As inscrições estão abertas até o dia 19/11/2012 e, se algum de vocês conhece alguém que escreva ou ilustre (o livro contará com 20 ilustrações), por favor, recomende o nosso projeto, que pode ser acessado nesse link: http://www.sinsc.furg.br/site/ipoetasdepijama/

Não precisa ser acadêmico da universidade para participar do projeto, pois ele é aberto a toda a comunidade.

Enfim, leiam o edital e, se te interessares, envie-nos o seu trabalho.

Fim do Mershan,
Anarchy Ink.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Fim do mundo e a Zona da Amizade


            Encontrei o laptop dela aqui. Ela tinha o costume de sempre retirar a bateria ao desligar o aparelho, assim, tive uma grande sorte! Mesmo depois de tanto tempo, ainda tinha carga... É um notebook de uma marca meio genérica, entende? E todo decorado com adesivos de vários desenhos, como Os Simpsons, Pucca, Lula Lelé e Zé Colmeia... Encontrei um vídeo que gravamos apenas nós dois. Nunca me esqueci dele, pois era o meu maior tesouro...  Estávamos um pouco bêbados e começamos a falar uma série de asneiras, enquanto terminávamos uma garrafa de Vodka. Porém, no fim, ela fala “Se eu virar uma trintona solteirona... Promete que casas comigo?”. A minha cara de idiota ao escutar isso é impagável, tanto que ela percebe e se mata de rir, depois de constrangedores e exatos três segundos de silêncio.
            Como eu amava essa guria...


terça-feira, 30 de outubro de 2012

FM Cafe 30/10/2012

      Ontem, dia 30, Mayara Floss e Fabiano Trichez (do blog entre-primos: http://entre-primos.blogspot.com.br/) Evandro Gomes, fundador do grupo "Poetas de Pijama da Furg" (http://www.facebook.com/groups/302710203133682/) e o Péricles (integrante da academia rio grandina de letras) fomos ao programa FM Café da Furg TV/FM conversar um pouco com a Rosane Borges sobre blogs, poesia, fotografia, furacão Sandy, e do livro do Poetas de Pijama que Mayara e eu estamos coordenando (http://www.sinsc.furg.br/site/ipoetasdepijama/)
   
 Aqui vai a entrevista na integra para quem quiser assistir:


Da esquerda para a direita: Evandro, eu, Péricles, Rosane, Mayara e Fabiano

As seis rosas


Aí estão seis rosas
Eu sei que preferes as violetas
Mas elas
Ao meu ver
Não representam a sua essência

As rosas são lindas e delicadas
Porém possuem espinhos
Que doem ao serem espetados
Mas não machucam
Nem causam feridas

As rosas tem um significado especial
E todo mundo reconhece uma
Quando olha para ela

Aí estão seis rosas
Cinco pelo nosso tempo
A que sobrou 
Simboliza nosso amor
Simboliza você
E simboliza o que sempre estará a minha frente

sábado, 20 de outubro de 2012

Epílogo


            Passei o dia pensando naquela guria. Mas que diabos!
            A falta de uma boa foda está começando a afetar a minha cabeça. Já tentei de tudo. Até joguei um balde d’água, que eu reservava para beber, por cima da minha cabeça. Soquei duas punhetas e ela simplesmente não sai da minha cabeça.
            Ela está ali, atirada no meio do corredor... Estava usando um lindo pijaminha branco e comprido. Calça e blusa. Com ursinhos amarelos e fofinhos espalhados por toda a roupa. Claro que, depois do estrago, ficou todo empapado de sangue.
            Estranhamente, o rosto dela está intacto. Claro... Teve uma certa decomposição, mas não houve ataque ali. Seu pescoço está dilacerado, mas o corpo está bastante inteiro.
            E que corpo, meu Deus! Exatamente o meu tipo. Cabelos castanhos e ondulados. Mas aquele ondulado elegante, como se ela recém tivesse saído do cabeleireiro. Seios durinhos e empinados. Magrinha... Ai meu Deus...
            Já sei, vou tocar um pouco do violão que eu encontrei aqui. Não faço ideia de como tocar, mas isso vai me distrair, com certeza.

            Bem, se passaram duas horas desde que eu comecei a tocar o violão e simplesmente não consegui fazer nada que preste. Resolvi, então, vasculhar a casa por algum trago e, o que eu encontro? Um Black Label pela metade! Será o meu companheiro pelo resto da noite, ou até eu acabar com essa garrafa.
            Uns amigos que eu tinha, que sabiam tocar instrumentos, diziam que quando você está bêbado, você toca bem melhor. Será que eu consigo virar um Zakk Wylde?

            O barulho atrai os monstros.
Será que vão escutar o violão e vir até aqui? 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Desbravadores


            As sondas voavam por Júpiter, Saturno e Urano. Pousaram em Marte e na Lua. Fora despachada uma para Vênus e Mercúrio, mas derreteram antes que percorressem um terço da distância inicial até o Sol.
            Enquanto isso Andrômeda continua inexplorada.
Assim como o fundo dos mares.
            As aventuras que o homem pensa em fazer.


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Inspirado na música "As aventuras que o homem quer fazer" da banda Riograndina Vampiros Nordestinos <<< clique para acessar o blog

sábado, 6 de outubro de 2012

Não atire no moribundo!

            Era uma saleta quadrada, do tamanho de uma sala de espera de pequenos consultórios médico. Estava escura e não tinha janelas. Uma mesa amarela velha logo abaixo de uma lâmpada incandescente de 40 watts, duas cadeiras de madeira na frente e uma atrás dela de couro rasgado e preto, aparecendo às espumas amarelas do estofamento, reclinável e giratória e com rodinhas. A sala tinha um pé direito alto o suficiente para um homem de um metro e oitenta centímetros ficar em pé e se sentir claustrofóbico. Havia um telefone vermelho, desses de girar o disco – que dá origem ao ato de “discar” um número para se telefonar -, uma folha de ofício, uma caneta bic que, pelo seu aspecto, deve ter sido achada no chão em algum lugar. Tudo em cima da mesa em notável desordem. No canto, atrás da mesa, tinha um armário de arquivo desses acinzentados e com três gavetas.
            Dois homens entram na sala. Um negro e um branco. O Negro entrou primeiro, acendeu a luz, suspirou e foi em direção a cadeira de couro. Carregava consigo uma pasta de couro preta mofada e desbotada. Largou-a em cima da mesa, sentou-se, abriu uma das gavetas da mesa, retirou dois copos e uma garrafa de uísque vagabundo, que estava pela metade, serviu uma dose nos copos, reclinou-se e botou os pés em cima da mesa, sujando de terra a folha de ofício. Estava de traje alto esporte todo preto. O branco se sentou numa das cadeiras de madeira e tentou ficar confortável e não conseguiu. Ele era moreno, cabelos pelos ombros e lisos, usava uma barba cerrada, porém curta. Pegou o copo e começou a bebericar. O Negro entornara o copo de uma só vez e servia uma nova dose.
            - Queria um cigarro agora mesmo. – Disse Dave, o branco.
            - Seria suicídio nessa sala sem janelas. – Disse Jones, o negro.
            - As coisas não andam bem.
            - Faz horas... – disse enquanto batia com a unha do dedo médio no copo.
            Ficaram em silêncio por um minuto. Jones serviu mais uma dose para cada um e depois disse:
            - A Williams não amadurece. Desde que aqueles dois bunda moles saíram da banda, eles não lançam nada novo, e já se vão aí quanto tempo? Três anos?
            - Não sei, não tenho os acompanhado.
            - Romancezinho adolescente só em livros, por favor, e olhe lá!.
            - Pois é... Mas tem esperança...
            - É... Osbourne reuniu a corja, Cornell e companhia também. Só falta o Vedder fazer outro “dez” e podemos respirar aliviados.
            - É o mesmo que pedir para o polaco ressuscitar e fazer “esquece” novamente.
            - Faz falta...
            - E como...
            - Tocava com ele, né?
            Dave não disse nada, apenas assentiu e terminou a sua dose. Jones foi servir novamente, mas ele gesticulou com a mão, fazendo o afro entender que não queria mais.
            - Vi nas notícias que aquela vaca não tem mais os direitos da imagem dele.
            - Finalmente. Consegui convencer a garotinha. Agora ela está com a gente.
            - Boa... Você fez um bom trabalho com o último álbum, Dave. Era o que estávamos precisando.
            - O teu último também não é de se jogar fora. – brincou com o amigo e ambos riram – Esse estilo “rockstar” de pegador também faz falta. É uma atitude que não se vê nessa gurizada.
            - Agora o pegador fala “e ela faz faculdade eu aqui aprendendo a dirigir” ou coisa do tipo.
            - É o resultado de dar uma guitarra para garotinhos mimados. Agora está assim, como se fosse um DVD da Meneghel.
            - Sei. Eu não acredito que as coisas chegaram aonde chegaram. O que foi que fizemos de errado?
            - Acho que começou lá com o Joe... Largaram o surf/punk e pintaram os olhinhos.
            - Ah... Acho que deve ter sido isso mesmo. Só precisou de um mau exemplo pra ferrar de vez com o esquema todo.
            - Acho que confundiram as coisas. Não fizeram mais músicas depressivas sobre questões adultas, mas sim sobre questões adolescentes. Agora temos um bando de barbados com crise que se tem dos quatorze aos dezessete anos. É patético... O polaco não era assim. Não mesmo...
            - Ah, o Loeffler vem fazendo algo parecido. Estão começando a estourar.
            - Verdade... O que me revoltou foi o Kroeger...
            - Nem me fala... Aquele violãozinho e com efeitinho de voz... Vomitei.
            - Faz falta o Polaco...
            - É... Aqui, beba mais um pouco.
            - Tudo bem. – Jones serviu mais uma dose e ficaram ali, sentados, esperando o tempo passar. Tentando entender quando que as coisas chegaram nesse ponto e como que aquelas porcarias que andavam tocando por aí tinham tomado os seus lugares. Era difícil de dizer. Talvez tenha sido a juventude que mudou, talvez não. Ou talvez o esquema tenha morrido só que os médicos ainda não deram a notícia ainda, ou, simplesmente, ninguém queria admitir.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As Crônicas de Folsom - Joe Bean


            O nascer do sol jorrava seus raios sobre toda a Califórnia. Viajava pela falha de San Andreas, atingia em cheio o letreiro de Hollywood e todos os estúdios que de cinema que a cidade possuía. Atravessava algum vão de uma porta qualquer, acertava as folhas de uma macieira. E cria a ilusão, em conjunto com a atmosfera, de que o céu diurno é azul.
            Um conjunto de raios em particular viajou pelo espaço, chegou até a cidade de Folsom, mais precisamente na prisão de Folsom. Para ser ainda mais específico, atingiu uma janela em especial. Uma que não possuía vidros, apenas três barras de ferro de uma polegada de espessura cada. Alguns desses raios chegaram as pálpebras de um jovem rapaz, que estava deitado na cama dessa cela.
            Com a luminosidade, Joe acordou. Estava com frio, uma vez que não tinha nenhum tipo de coberta para se tapar durante o sono. Esfregou os braços para tentar aquecer o corpo. Olhou na parede o calendário improvisado que fez, para saber precisar a passagem do tempo. Sorriu. Era seu aniversário. Completava hoje vinte anos. A felicidade, assim como veio, se foi, dando lugar a melancolia, afinal, ironicamente, hoje era o dia em que sua sentença seria cumprida.
            Escutou um martelar do lado de fora, no pátio, o que lhe fez os pelos da nuca se arrepiarem e um bolo se formar em seu estômago. Segurou-se em duas das três barras, fez um pouco de força, e conseguiu erguer o corpo os quarenta centímetros necessários para conseguir ver o pátio da prisão. Estavam construindo, ali, a forca. Seu destino final.
            Lembrou-se que, em sua última carta, mamãe havia dito que estava indo ao capitólio, para pedir ao governador por um pronunciamento sobre sua terrível sentença, afinal, Joe era inocente! E ela tinha como provar.
            Joe rezava. É o que lhe restava. Fora condenado pela morte de vinte homens no estado do Arkansas. Como poderia matar vinte homens no Arkansas sem nunca ter ido ao Arkansas? E melhor, como ELE poderia matar vinte homens no Arkansas numa época em que tinha apenas dez anos de idade? Não sabia. Sabia apenas que tinha sido preso e condenado à morte... Antes tivesse matado os vinte infelizes.
            - Joe Bean! Joe Bean! – Uma voz grave chamava por seu nome. Reconhecia a voz, era o tenente Viper.
            - Cela 10! – Respondeu Joe. O homem parou de gritar seu nome e só caminhava. Alguns presos praguejavam por causa do escarcéu, pois queriam dormir. O estalar dos coturnos do policial aumentavam e ele fazia questão de gritar para os presos que protestavam contra o barulho para que calassem as malditas bocas.
            - Joe Bean, você vai tomar café cedo hoje. Cortesia do Sr. Folsom pelo seu último dia aqui. – Viper abriu um sorriso sarcástico. Joe nunca se abalava com o jeito petulante do policial, mas aquilo que acabara de fazer foi o ato mais anti-humanitário que já sofrera. O sujeito tinha colhões para fazer piada com a cara de um homem, em seu último dia de vida, exatamente por esse motivo: Era seu último dia de vida. Viper deu a ordem para que Joe virasse de costas e colocasse as mãos no vão que há entre as grades. O condenado acatou e o policial algemou suas seus pulsos, logo em seguida abriu a porta da cela e ordenou que Joe o acompanhasse.
            - O que tem para comer? – Perguntou Joe.
            - O de sempre. Só que agora vem um ovo frito e estarás sozinho. Em paz. Sem a presença desse monte de merda.
            - Quanta gentileza. – Ironizou.
            O café foi a mesma merda sem gosto de sempre, e, como o policial tinha dito, veio um ovo frito. Mas estava frio. E sem sal.
            - A hora da sua sentença saiu, Joe Bean. Será as duas da tarde. – Viper falou assim que o recolocou na cela.
            - Alguma correspondência da minha mãe ou do capitólio? – Viper riu.
            - E porque o capitólio iria querer falar com você, seu merdinha?
            - Porque sou inocente. – Viper riu mais alto.
            - Claro que é. – Disse ao meio das risadas enquanto enxugava uma lágrima.
            Não era justo. No dia em que o tal assassino matou os vinte caras, ele tinha dez anos de idade, porra! Como poderia ter matado vinte caras!? Aliás: “Eu estava em Santa Fé... Cometendo pequenos delitos... Batendo carteiras... Roubando dinheiro do lanche de meninos e meninas defronte algumas escolas de riquinhos que faziam pose de quem tinha classe...”, pensou. Bateu com a cabeça na parede algumas vezes. Como queria ter, pelo menos, matado algum dos caras para merecer esse fim miserável.
            Ao meio dia, Viper, novamente, retornou a sua cela.
            - Tens direito a uma última refeição ou a um maço de cigarros e um banho de sol de uma hora exclusivo, ou... – o policial falou entre dentes visivelmente enraivecido – Uma garrafa da bebida que quiser. – O homem estava vermelho de raiva - Você que escolhe.
            - Pode ser uma garrafa da Vodca mais vagabunda que vocês tiverem aí...
            - Isso aqui não é um maldito bar e eu não sou a porra dum barman para ficar servindo um pedaço de merda que nem você. – Viper bateu com o cassetete na cela, fazendo o barulho característico do ferro chacoalhando, virou as costas e saiu praguejando, dizendo que iria falar com o diretor a respeito de parar de enviá-lo para ser garçom de filho da puta assassino. Joe sorriu, pois sabia que nessa ocasião, eles davam o que o preso pediam e Viper deveria trazer o seu último pedido.
            Tomou toda a Vodca e, logo, chegou a hora.
            - Joe Bean! Joe Bean! – Uma nova voz chamava por si. Era uma voz mais aguda dessa vez, indicando que era o sargento Matlock.
            - Cela 10! – Gritou com a voz embriagada.
            - Vamos, Joe... – O homem era mais novo que Viper e, visivelmente, mais mole. Odiava quando o faziam escoltar um condenado a morte. Era sempre muito triste, por mais que fosse um filho da puta matador de criancinhas. Não era o de Joe, mas era sempre triste. Joe pôs os punhos no vão e o homem o algemou.
            Em sua caminhada até o pátio, alguns presos debochavam, outros lhe desejavam paz e outros ainda não davam a mínima. A maioria dizia “Te vejo no inferno.”. Joe estava feliz, pois estava bêbado. Afinal, conseguiu tomar um porre no seu último aniversário. Sorriu quando pensou que, se estivesse sóbrio, poderia sentir alguma dor. “Aquela garrafa de Vodca foi a melhor escolha da minha vida.”. Joe deu uma gargalhada. Matlock ficou perturbado. Nunca iria se acostumar com as diferentes reações que cada homem tinha minutos antes de sua morte anunciada. Decidiu que, depois disso, iria pedir sua transferência. O dinheiro a mais que recebia por trabalhar na prisão não estava compensando.
            Joe subiu as escadas que levavam ao palanque onde a forca fora montada. O carrasco estava a postos. Então o autofalante do pátio deu uma forte microfonia, fazendo, os que podiam, cobrir os ouvidos. Uma voz metálica saiu dali em alto e bom som. Era a voz do diretor:
            - Atenção Joe Bean! Atenção! Temos uma mensagem direto do capitólio e assinada pelo governador. – Joe sorriu de alegria, era a sua salvação! O diretor pigarreou. – “Ouvi sua comovente história, senhor Joe Bean. A Sua mãe veio pessoalmente até Washington D.C., falou com todas as minhas secretárias e esperou incansavelmente até que eu tivesse uma brecha em minha agenda para poder falar-me. Foi uma tremenda falha da Justiça dos Estados Unidos da América ter marcado a sua execução no dia de seu aniversário. Mas eu não posso fazer nada em relação a isso. Tudo o que posso fazer é me juntar a sua mãe e lhe desejar um feliz aniversário.”. – Então o autofalante ficou mudo. Segundos depois, Joe não ouvia mais som nenhum.

sábado, 15 de setembro de 2012

A canção que nunca saiu de moda



Ele assistia
Enquanto o resto
Apenas passava

Para lá
e para cá

A pé
De carro
De moto
A cavalo
De carroça
E até mesmo
Bicicleta

Indo e vindo

Buzinavam
Cantavam
Pneus
Xingavam
Gritavam
Ficavam mudos
Ou sonorizavam
Com seus passos

Tum-tum-tum
tom-tom-tom
toc-toc-toc
tchac-tchac-tchac

Numa canção
atonal
sem harmonia
ou melodia
nem letra tinha

Mas, aparentemente
todos queriam tocar
e cantar
A maldita canção

E ele continuava
Apenas a observar
e a batucar
num samba sem ritmo
batucado em um chaveiro
de couro preto

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O rabisco na prancheta da demência


“Pescador tem que ser pescador”
Assim como a vaca
Que come o pasto
dentro de um cercado

Ou como os peixes
dentro de um aquário
Em um movimento estúpido
para cima
para baixo
para o lado
para o outro
circulando
estagnado
numa dança escrota
sem sair do lugar
Esperando a comida
uma vez
por dia
Apenas para serem
admirados
A distância,
é claro

E eles possuem
um pós-doutorado

e uma prancheta
E os observam

Por que ele não pode ser
um professor universitário?

domingo, 19 de agosto de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" FINAL


            Passaram-se três dias depois do prazo padrão que levava para chegarem as cartas-resposta dos combatentes, todavia, Alana continuava sem a sua. Não sabia mais o que pensar. Seu coração doía pela preocupação, mas seu cérebro tentava lhe dizer que Ranzo poderia estar morto há muito tempo e que as respostas recentes eram apenas um engodo motivacional de Zhalmyr para que continuasse trabalhando. Uma trapaça, uma peça de teatro de um diretor desalmado, que beirava a brutalidade.
            Hora do pronunciamento oficial do meio da tarde. Todos pararam na fábrica e olharam para o grande televisor. Zhalmyr aparece, faz sua referência e começa a falar. Alana não se mostrava nem um pouco interessada em ver ou escutar o que o charlatão falava, mas sentia sempre uma atração e ansiedade pelo evento. O Soberano falava sobre estarem perto da vitória. Estavam às cercanias do Palácio Real de Ishtar naquele exato momento e que era muito provável que a guerra poderia vir a acabar naquele mesmo dia.
            A euforia era enorme. Até mesmo Alana se sentiu emocionada. Aliviada. Aquele ser humano era um grande desgraçado, entretanto, a vida iria finalmente voltar ao seu ritmo normal. As mulheres, emocionadas, choravam abraçadas e felizes, pois seus queridos amores voltariam para casa afinal. Zhalmyr finalizou o discurso liberando todo mundo do dia de trabalho, demonstrando total confiança de que seu exército triunfaria.
            Após certa confusão, embalada pela alegria, todas conseguiram sair da fábrica. Todos os bares e cafés da cidade abriram e o povo todo, predominantemente mulheres e crianças, estavam nas ruas em expectativa.
            Alana encontrou o vovô em casa e saíram para comemorar a vitória quase certa. Encontraram Leonôra e sua família: mãe e irmão caçula. Ela sentia que tinha algo estranho na história toda. Logo creditou ao possível alívio imediato após anos de apreensão e incertezas. De fato, desde que nasceu vivia sobre as incertezas de uma guerra na qual a pouco mais de duas semanas passou a desacreditar. Uma guerra retratada como épica nos livros de História. Retratada, inclusive, como parte da cultura de Nombarath. Uma guerra arraigada na mente dessas pessoas, que nascem e morrem sob um período incessante de violência e bestialidade.
            Mas, no fundo, mesmo não querendo admitir, sabia que algo estava faltando. Não sabia dizer o que. Era apenas um detalhe.
           
            As dezessete horas, um fato totalmente inédito, saiu então o tão esperado veredicto: A glória de Nombarath sobre a queda de Ishtar. A populção foi pega de surpresa. Alguns não assistiram o pronunciamento, pois não estavam devidamente posicionados próximos a uma televisão, já que não era hora dela ligar. Alana e Leonôra quase que, de tão avoadas e despreocupadas em meio as comemorações antecipadas; em meio a embriaguez, liberada pelos responsáveis, quase a perderam também. O telão da Plaza central acendeu. Logo em seguida Zhalmyr, com os olhos marejados, deu a notícia, e dedicou a luta em memória da adorada princesa Isabela. Disse que ninguém mais precisaria ir às fábricas até o regresso dos soldados, porém, o campo, por ser o responsável pela produção dos alimentos, deveria prosseguir, e seriam devidamente recompensados pelo trabalho árduo. O Soberano agradeceu ao povo e se retirou, deixando e as TVs de toda cidade apagaram instantaneamente, como de costume.

            A noite caiu e, quem não estava dormindo, cambaleava alcoolizado pelas ruas da cidade. Alana e Leonôra estavam na Plaza central ainda, próximas ao chafariz com a estátua de bronze da Princesa Isabela e conversavam. A euforia passara, pois sabiam que Ranzo e Thânos não voltariam. Abraçaram-se e começaram a chorar. Choraram copiosamente por minutos que não sabiam precisar. Quando conseguiram se acalmar, decidiram ir para casa. Leonôra disse que não queria ficar sozinha, dessa forma, Alana convidou-a para dormir em sua casa. Assim, aliviadas pelo choro, felizes pelo fim histórico do conflito, e pela paz que reinaria, rumaram para casa, para o merecido descanso. O Alcool já diminuíra seu efeito, mas, assim que chegaram, tomaram um rápido banho e deitaram-se para dormir no quarto da Alana.
            Durante a noite, Alana escutou barulhos, como pancadas secas em madeira e vidros quebrando, advindos da rua. Estranhou aquilo e foi espiar.
            Quando seus olhos bateram na cena dantesca que acontecia na rua, seu sangue gelou. Eram soldados. Soldados e mais soldados. Por toda a parte. Dezenas. Não. Centenas deles. Centenas de soldados arrombando portas e quebrando vidros. Soldados de Ishtar! Alana, com pavor na voz, correu e foi acordar a amiga.
            - Acorda, Leô! Acorda!!!
            - O que foi, infeliz?! Quer me matar de susto?! – Disse a amiga, acordando de sobressalto.
            - Soldados, Leô... Soldados... Nas ruas... - Alana tremia dos pés a cabeça.
            - Eles chegaram? Eles chegaram?! – Sua voz ia adquirindo uma alegria gradualmente crescente.
            - Cala a boca! – Alana falou com força, mas o som saiu abafado e se tornando agudo no fim, enquanto fazia sinal pedindo silêncio. – São de Ishtar! De Ishtar!
            - O que?!
            - Vem comigo! Temos que acordar o vovô! – Quando terminou de falar isso, um estrondo se fez ouvir. Alguém arrombava a porta de sua casa.
            - O que é isso?! O que está avend... AAARGH! – Seu Nikolai foi interrompido por um sabre atravessando seu peito. As meninas entenderam que se tratava de uma espada: primeiro porque não houve um disparo, e segundo porque escutaram o barulho de uma espada sendo desembainhada.
            - Não importa quem ou o que... Matem tudo o que se mover! – Disse uma voz grave e enérgica vinda do andar de baixo – Ah, se for de seu agrado, senhores, façam o que bem entender. – Disse com malícia e foi seguido por um coro de gargalhadas de igual tom.
            - Ai, meu Deus! Ai meu Deus! – Repetia Leonôra. – Mataram o vovô... Mataram o vovô... – concluiu.
            Como que saindo de um transe, Alana pegou a amiga pela mão e puxou-a com força. Por sorte o escritório do vovô era no segundo piso. Aposento este que, antigamente, era o quarto dos pais da menina. Seu Nikolai dormia na sala, pois dizia que não conseguiria dormir nesse quarto, assim, Alana e ele transformaram a peça em um escritório/oficina de carpintaria. Não era o ideal para uma oficina, mas sofriam o mal de falta de espaço.
            Chegando ao escritório, Alana mexeu num livro. Era o errado. Amaldiçoou-se por não ter prestado atenção na hora em que o agora falecido avô indicou qual o procedimento correto a ser tomado. Tentou outro. Errado de novo.
            - Estavas certa, Lana... Tinha mesmo algo errado com aquilo tudo... – Falou em um estado aparentemente catatônico e com a voz baixa.
            - Merda! Não é esse... Talvez esse?... MERDA! – acompanhou o tom baixo e não deu muita bola para o que a amiga dizia e seguiu tentando.
            - Eles estão chegando... – falou com voz mais baixa ao ouvir que os homens subiam as escadas.
            - Não me apressa porra! Merda, também não é esse! – “Tum... Tum... Tum...” os passos furtivos dos sádicos.
            - Lana... Salve-se, por favor... – Leonôra foi em direção à porta.
            - Cala a boca! Volta aqui! Volta aqui! – Sussurrava com força e continuava buscando o livro-chave correto, agora, sem muito critério para a seleção, puxando qualquer um que estivesse mais próximo as mãos, e sem olhá-los, enquanto girava o resto para falar com a amiga. – Sua retardada! Venha aqui! Venha aqui!
            Leonôra fez que não ouviu e saiu para o corredor.
Alana escutou os soldados
- Hum... Olá, boneca, qual o seu nome?
- Le-Leonôra...
- Nombarathianos tem nomes estranhos mesmo... Mas, veja só você... Não é nada mau, não concordam? – Os demais riram. 0 Vem comigo. Eu nunca estive com uma loirinha antes.
Alana conseguiu abrir a passagem e entrou nela, com todo o cuidado para não ser ouvida. O perfeccionismo do vovô veio a calhar, uma vez que as dobradiças não rangeram e a estante/parede falsa não arrastou no chão quando movida. Fechou e ali ficou. Deitada e com as duas mãos tapando a boca, para melhor segurar o choro.
- Grita pra mim, grita... – Um soldado falou com doçura na voz. – Mocinha... Não foi um pedido. Grita pra mim! – Nada. Alana escutou um tapa. Leonôra gemeu. – EU MANDEI GRITAR! – O som característico de uma espada sendo sacada. Leonôra gritou. – Isso! Assim que eu gosto! Grita mais! – novo grito – GRITA MAIS! – novo grito.
- Agora é minha vez! – Uma outra voz masculina.
- Ainda não terminei, não estás vendo?!
- Foda-se, tem outros buracos.
Todos riram. Alana chorava. Leonôra gritava. Portas arrombadas. Vidros quebrados. Meninas estupradas. Meninos mortos. Velhos mortos. Incapazes mortos. Crianças mortas. Solo manchado de vermelho.
            Quando raiou o dia, os soldados, não há muito, já haviam deixado a cidade. Alana saiu do esconderijo. Correu soluçando em direção a amiga. Ela estava em seu quarto. Seu corpo jazia ali. Sem vida. As lágrimas em suas bochechas ainda estavam molhadas. Seu corpo possuía dezenas de cortes, sendo o fatal, uma perfuração na boca do estômago. Lembrou-se do momento em que a amiga suplicava e do grito mais horripilante que já escutara na vida, então associou a esta perfuração. Deitou-se sobre o corpo nu da amiga e chorou copiosamente tudo o que teve de ouvir calada a noite toda. Chorou pelo avô. No fim, chorou de raiva, por não ter conseguido abrir a passagem secreta a tempo. Quando voltou a si havia quebrado todo o quarto. Não sabia dizer se realmente tinha feito aquilo. Pensou, inclusive, que tivesse pegado no sono. Não lembrava. Pegou a amiga no colo e desceu as escadas. Iria fazer um funeral. Encontrou uma pá nas ferramentas do avô, foi até o quintal e começou a cavar.
Quando voltava para o quarto, notou que a casa estava intacta. Exceto pelo seu quarto, que ela mesma havia destruído, e pela porta da frente arrombada, tudo estava no seu devido lugar. Não entendeu.
Encontrou sua roupa preferida. Deu um banho na amiga. Vestiu-a e a pôs na vala.
Enquanto tapava, chorava, lembrando dos melhores momentos. Ia começar a cavar o túmulo do avô, quando a sensação rotineira de que deveria estar indo para frente da televisão começou a fluir. Sabia que estava próximo do horário do primeiro pronunciamento oficial do dia. Sentia-se estranha. Largou a pá e foi para a sala. A TV ligou. O anúncio de que essa mensagem estava sendo exibida em cadeia nacional apareceu. Alana sentiu o conotativo estalo no cérebro. Era isso que faltara na véspera. Apesar de não ter prestado atenção no que o Soberano dizia, tinha reparado que essa mensagem não havia sido exibida. Perguntou-se o que esse desgraçado vomitaria.
- Meus preciosos cidadãos e cidadãs! Eu, seu querido soberano, Zhalmyr Aquilinoyev, terceiro de seu nome, saúdo vocês por mais um importantíssimo, e vital, dia de trabalho em nossas fábricas e lavouras. Muito obrigado! No ritmo em que estamos, mostraremos a nação rival que não nos abatemos por causa dessa guerra. Guerra sagrada, da qual sairemos vitoriosos! Nossa gloriosa nação Nombarath se manterá sólida para todo o sempre. Esmagaremos todo e qualquer rato asqueroso de Ishtar feito baratas! Tenham um bom dia de trabalho. Trabalhem com gana. Trabalhem com garra! E juntos sairemos vitoriosos!
Alana começou a rir. Gragalhava. Virou as costas e foi cavar o túmulo do avô. Deu-lhe um banho, vestiu-o com seu melhor terno e enterrou.
Juntou suprimentos e roupas. Colocou-os em uma mochila e em uma mala e partiu em direção ao reino neutro de Marok. E enquanto caminhava pelas ruas da agora cidade fantasma de Namkarath, percebeu que, salvo algumas janelas e portas quebradas, todas as construções estavam intactas. E fediam a sangue.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 6 de 7


            Alana estava confusa. Passaram-se duas semanas desde a descoberta das supostas cartas falsas. Não sabia o porquê, ou, de repente, estava em negação, mas continuou a enviar cartas para Ranzo, que continuava a respondê-las como sempre. Zhalmyr, periodicamente, das dez horas da manhã as vinte horas da noite, aparecia na televisão, no intervalo de sempre – a cada duas horas -, para fazer seus pronunciamentos oficiais. Não acreditava mais no homem, entretanto tinha uma forte ideia de “bem maior”, ou bem de todos”, ou ainda “bem da nação”, pulsando em seu peito. As palavras de Ranzo, aliadas a esse sentimento, eram o que lhe dava forças para ir a fábrica todos os dias.
            Durante o intervalo do almoço e depois do pronunciamento oficial do meio dia, Alana conversava com Janice, uma colega. Leonôra estava concluindo um trabalho e ainda não havia descido ao refeitório para almoçar. Enquanto ouvia a colega falar saudosa sobre o marido, ocorreu-lhe de perguntar se, recentemente, ele tivesse lhe contado algum feito por carta.
            - Sim! Sim! Ele matou um daqueles ratos asquerosos esganando-o. A munição tinha acabado e... – Alana não prestou atenção no restante da história. Quando achava oportuno, indagava alguma coisa como “Oh”, ou “Impressionante!”.
            Durante o trabalho, resolveu perguntar para o maior número possível de pessoas se seus correspondentes havia lhe narrado façanhas nas últimas duas semanas. Todas as respostas eram positivas, mas todas as histórias eram diferentes. Não compreendia. Por que será que as de Ranzo e Thânos eram iguais? No entanto, o único fator em comum eram que todas as pessoas tinham recebido uma narrativa dramática mais ou menos no mesmo período, entre uma e duas semanas atrás. Outro fato é que todas as cartas eram escritas a máquina e ninguém sabia dizer com certeza porque era feito dessa forma. A resposta mais comum era: “Normas do exército.”.
            O expediente terminou, como tradicionalmente acontece, após o pronunciamento oficial das seis horas da tarde do Querido Soberano. Todas as moças se dirigiam aos vestiários e, em seguida, às suas casas.
            No caminho para casa, Alana e Leonôra seguiam juntas, como sempre.
            - Vou perguntar pro Ranzo... – Falou Alana, do nada, interrompendo a amiga, sem prestar atenção no que ela dizia.
            - Perguntar o que? Tu estavas me escutando pelo menos?
            - Perguntar por que ele e o Thânos contaram a mesma história.
            - Cuidado. Podes não gostar da resposta... – disse em tom de advertência.
            - Não consigo evitar. Sinto que vou enlouquecer se não souber a verdade. Prefiro o gosto amargo dela a viver nessa falsa expectativa...
            - Não sei não...
            - Preferes ficar sem saber o que aconteceu de verdade?
            -... Sim...
            - Ok... Não te conto quando eu descobrir.
            - Obrigada. – Leonôra falou com a voz embargada e sentindo os olhos marejarem.
            - Tchau, Leô. Até amanhã.
            - Tchau, Lana. – Ela falou sem olhar para trás.
            O papo foi calmo, mas qualquer pessoa conseguiria, definitivamente, sentir um peso naquela situação. Um misto de tristeza, decepção e um pouco de agonia.
            Assim que chegou em casa, Alana foi entusiasmadamente recepcionada por seu avô.
            - Laninha! Laninha! Terminei! Venha! Venha ver! – vovô pegou-a pela mão e levou a neta até os segundo andar da casa, mais precisamente, ao escritório do avô.
            - Então? O que acha?
            - Alana olhou sem entender. A peça estava tal qual como sempre esteve.
            - Vovô... Não vejo nada de diferente... O senhor está...
            - Exatamente! Hehehe! – Disse satisfeito Seu Nikolai, quanto caminhava até uma estante cheia de livros. Escolhei um em especial e puxou-o. Um mecanismo foi acionado, fazendo o lado direito da estante mover-se cinco centímetros para frente, como se fosse uma porta, revelando uma pequena área escondida no cômodo.
            - Uau, vô! Isso ficou incrível! – Ficou realmente surpresa, apesar de considerar todo o trabalho do avô um desperdício de tempo e esforço.
            - Ficou perfeito, não é? – Disse orgulhoso.
            - Sim! Ainda mais que eu não vejo uma sujeirinha para eu limpar.
            - Hahaha não exploraria tanto assim a minha netinha favorita.
            - Ok, eu vou fazer o jantar...
            - Hehehe
            Depois do jantar, Alana foi para o seu quarto. Estava determinada a escrever a carta, perguntando o fato misterioso para Ranzo.
            - Lana! Hora do pronunciamento do nosso Querido Soberano! – Chamou o vovô. Quando deu por si, estava ali, assistindo a televisão. Não conseguia entender. Estava querendo escrever a carta com tanto entusiasmo, mas foi assistir ao Soberano, mesmo desacreditada, em segredo, pois não sabia como seria a reação das pessoas se dissesse o que tinha descoberto.
            Só depois que o pronunciamento terminou que Alana conseguiu escrever a carta.
            No outro dia, acordou mais cedo e foi até o centro de correspondências para enviar a carta para Ranzo. Somente depois de feito isso foi ao local de sempre, a esquina onde sempre se encontrava e despedia de Leonôra.
            Decidiu não tocar mais naquele assunto com a amiga. Resolveu que dissimularia e voltaria aos tipos de conversa que sempre tiveram antes de toda essa trama misteriosa acontecer. Não sabia o que sentia sobre a amiga. Se era pena ou se era preocupação. Sabia apenas que ela não queria saber e preferia se manter na ignorância. Começou a pensar sobre as ações e palavras da amiga. As palavras que usava para se direcionar aos ratos imundos de Ishtar, por exemplo, eram as mesmas que o Soberano utilizava. Sentiu uma corrente elétrica saindo da base de sua coluna e atingindo o cérebro. Arregalou os olhos. Ela própria fala da mesma forma. Não só ela, mas todas as pessoas que conhece. Perguntou-se por que odiava tanto os Ishtarianos. O que de fato algum deles fez para ela própria? Não sabia responder.
            Eis que a amiga chega e, então, mesmo um pouco assombrada com o que acabara de revelar a si mesma, conseguiu dissimular e seguiu a ideia de não tocar mais no maldito assunto com a amiga.
            No entanto, não conseguiria mais deixar de pensar nisso tudo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 5 de 7


            - Não pode ser possível isso... Mas como? – Indagava Leonora – Não é só a história, Lana... O romantismo... A paixão... As palavras de carinho.... É tudo isgual! Tal qual! Tim-tim por Tim-tim!
            - O pior é que eles sempre escreveram a máquina, então não dá pra saber se...
            - Estás dizendo que... Que não são eles que escrevem essas cartas?
            - Eu não sei... Mas, se for isso mesmo, qual o propósito? Será que... – Alana sentiu os olhos marejarem e a voz começou a embargar – Será que eles...
            - Ai, amiga... – Leonora disse com a voz sumida – Ai meu Deus... – Leonora abraçou a amiga e, assim, ambas iniciaram o pranto.
            - E se... E se eles...
            - Cala a boca! Não! Isso não! – Repetia Leonora enquanto chorava.
            Após um tempo, depois de estarem um pouco mais calmas, retomaram a conversa.
            - Mas porquê estão fazendo isso? QUEM está fazendo isso? – Questionou Alana.
            - Bem, nós estamos trabalhando no lugar dos homens... É possível que quem está fazendo isso, o está fazendo para que continuemos focada no trabalho, sem nos deixar abater... Sem que faltemos... Para não prejudicar a nação... – Sugeriu Leonora.
            - Foda-se a nação, Leonora! – Protestou a amiga – Eu quero o Ranzo do meu lado!
            - Eu também quero o Thânos aqui comigo, mas... Acho que devemos erguer nossas cabeças e seguirmos fazendo nosso dever cívico e honrar o nosso país e Nosso Querido Soberano.
            - Como tu consegues pensar assim, Leonora? O Thânos pode estar MORTO! – Gritou Alana.
            - Eu sei, merda! E tu achas que isso não dói em mim? Mas de que adianta se Nombarath for destruída? Nós todos morrermos! – Contra-argumentou.
            - Mas estão mentido para nós, Leonora!
            - É para o nosso bem. – Respondeu com firmeza e serenidade. – Nosso Querido Soberano vai cuidar de todos nós. A vida seguirá e nós sairemos vitoriosos.
            Com a pontualidade de um relógio atômico, todos os aparelhos televisores da cidade de Namkarath, como de costume, são ligadas automaticamente, dessa vez, para o pronunciamento do meio dia. Como de praxe, o aviso de que aquele pronunciamento oficial está sendo transmitido para toda a nação apareceu na tela.
            - Vocês não vão vir assistir, meninas? – Vovô Nikolai gritou, direto do primeiro andar, onde fica a sala de estar da casa da Alana.
            - Bem que eu estava me sentindo estranha... – Comentou Leonora – Vamos lá ver? – Alana estava incrédula com a frieza da amiga. Não tinha vontade de fazer nada. Na verdade, daria tudo para que estivesse no meio do fogo cruzado da guerra e que uma bala acertasse o seu peito, ou que uma espada cortasse sua cabeça.
            Assim que Leonora foi em direção à porta do quarto, Alana constatou que também se sentia estranha por não estar na frente da televisão naquela hora e sentiu que suas pernas queriam mandá-la para lá. Sentia-se mecânica quando de fato estava de pé e descendo as escadas. Ao chegar na sala, Leonora já estava sentada ao lado do Seu Nikolai. Com medo que o vovô visse suas lágrimas, preferiu ficar de pé e escorada no batente da porta.
            - Meus preciosos cidadãos e cidadãs! Eu, Zhalmyr Aquilinoyev, terceiro de seu nome, saúdo vocês! – e fez uma reverência, curvando-se, como um ator faz ao final da peça no teatro – Devido as boas notícias dessa manhã, eu venho aqui, humildemente pedir para que vocês façam uma jornada de meio turno hoje. Vamos todos juntos ajudar nossos soldados a conduzir nossa Nação à glória. Demonstremos empenho e rumemos ao triunfo! Vida longa a Nombarath!  - Disse com demasiado entusiasmo essa última frase.
            Assim, a transmissão se encerra e a televisão automaticamente se desliga. Leonora se levanta e vai em direção à amiga. Pela cara da amiga, Leonora pôde constatar de que a melhor amiga não estava presente. Ali se encontrava apenas uma carcaça, com o espírito destruído e a mente exilada em outra dimensão.
            - Vamos, Lana. O dever nos chama.
            Quando Alana voltou a si, estava na rua, indo para a fábrica. Então pensou “O que é que eu faço lá?”

domingo, 5 de agosto de 2012

Caros leitores,

Gostaria de informar, mesmo que tardiamente, que estou viajando, por isso o blog parou. Não é por negligência e nem por crise de inspiração hehe

As postagens voltarão ao normal ainda essa semana. Provavelmente amanhã, quando retorno a minha humilde residência.

Abraços,
Anarchy Ink.

sábado, 21 de julho de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 4 de 7


            O dia seguinte era domingo. Alana acordou com o barulho da televisão. Elas acendiam automaticamente nos horários programados para as transmissões oficiais, na verdade, era praticamente a única coisa que a televisão transmitia. Resmungou qualquer coisa, calçou um par de chinelos próximos à cama e desceu as escadas e foi até a sala. Seu avô estava assistindo. Zhalmyr fazia um novo pronunciamento, atualizando, como de costume, o povo em relação à guerra. Trajava a mesma vestimenta de sempre. Alana lembrou-se de Leonora fazendo graça das roupas do Soberano, então sorriu.
            Zhalmyr falaca que as tropas de Nombarath tinham capturado um importante oficial inimigo, que seria torturado, e, assim, seriam arrancadas da boca do rato, informações preciosas que poderiam vir a ser cruciais, reduzindo o tempo de ausência de seus lares, os honoráveis e destemidos soldados Nombarathianos. Em seguida, o Soberano avisou que um documentário sobre as perversidades de Ishtar seria transmitido. Alana normalmente ficaria interessada, mas, naquele momento, estava mais interessada em voltar ao seu quarto e escrever uma resposta a Ranzo. Iria contar-lhe sobre as boas novas – a captura do oficial inimigo – e que em breve estariam juntos novamente. Lembrou que Zhalmyr informou o nome do pelotão que capturou o general, dessa forma, perguntou se ele fazia parte do grupo. Escreveu mais algumas declarações de amor e, então, dirigiu-se ao centro de correspondência da cidade.
            A fila estava enorme. “todas as mulheres da cidade tiveram a mesma ideia que eu...”, pensou. Lá pelo meio da fila, avistou Leonora, que abanava em sua direção. Saiu do seu lugar, último da fila, e dirigiu-se até a amiga, sob os protestos semi silenciosos de muitas pessoas, mas não se importou com isso.
            - Leô! Chegou ontem a carta do Eanzo! Ai! Que alívio!!! – novamente, não se deu conta que estava exaltada.
            - Eu te falei, mulher! Bom, mas e aí? Conta tudo!
            - Ai, amiga... linda a carta como sempre, né!? Mas ele contou também como ele matou dois daqueles ratos nojentos!!! Meu herói!
            - Ah, é? Meu Thânos também fez uma proeza! Foi épico! Estava cercado, ok? – Leonora gesticulava muito com as mãos, esboçando círculos e pessoas – eram dois também. Dois ratos. Apenas uma faca. Zás! Pegou o primeiro e depois jogou a faca no outro. Lindo, não? – Alana ficou surpresa. Estranhou. Pensou...
            - Como é que é? Repete, por favor?
            - Incrível, né? Claro, repito sim. Eu também não acreditei na primeira vez que li... – Então, Leonora repetiu com calma e detalhadamente a história.
Era exatamente a mesma história que Ranzo descrevera em sua carta!
- Não pode ser, Leô... – Alana falou atônita.
- Ué, e porque não? O Thânos também é um bom soldado e...
- Não é isso! Vem... Vem comigo! – Alana pegou a amiga pelo braço e puxou-a para fora da fila.
- Hey, mas e a fila?! Tenho que enviar esta carta e... – Alana parou e olhou com aflição para a amiga. Preocupada, Leonora perguntou o que se passava.
- O Ranzo contou-me exatamente a mesma história na carta dele!
            - O que?!
            - Tem alguma coisa errada, Leô. MUITO ERRADA! Venha, vou te mostrar, - E saíram as pressas em direção a casa de Alana.

terça-feira, 17 de julho de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" Parte 3 de 7


            - Vovô! Cheguei! – Alana falou ao chegar depois de mais um dia de trabalho. Ela ouvia barulhos de marteladas e serras a distância, vindos do segundo andar de sua casa. Seu avô encasquetara que iria fazer um esconderijo secreto, por precaução, caso o pior acontecesse durante a guerra. Ela achava graça, pois todo mundo sabia que estavam vencendo a guerra.
            Devido à idade de setenta anos e a barulheira das ferramentas, ele não havia escutado a neta. Alana, percebendo que o avô não respondera, foi até o cômodo e gritou “Vovô!”. Assim, o senhor calvo e com alguns fios grisalhos remanescentes ao redor, levantou os óculos de proteção para os olhos, enquanto girava a cabeça em direção a neta. Ele ficou em silêncio por uns instantes e com o olhar perdido.
            - O que foi vovô? – Perguntou intrigada.
            - Como tu estás parecida com a tua mãe e também com a tua avó Hehehe... Levei um choque...
            - Para, vovô... O senhor sempre diz isso...
            - Eu sei, eu sei... Mesma tonalidade avermelhada dos cabelos, olhos verdes, nariz de batatinha...
            - Tá bom, vovô. Ok... – Respondeu com ternura, mas com a falta de paciência de quem já ouviu a história mais de cem vezes. – O que o senhor quer jantar?
            “Surpreenda-me”, os dois falaram ao mesmo tempo e riram.
            - Suas tiradas estão ficando previsíveis, seu Nikolai.
            - É a velhice... Depois eu invento algo novo.
            - Certo... Vou fazer a janta... – Alana se virava quando Seu Nikolai a interrompeu.
            - Chegou uma carta do Ranzo hoje mais cedo.
            - Sério?! – Não percebeu, mas tinha gritado. Saiu correndo para pegar a carta, mesmo sem saber onde estava.
            - Deixei em cima da tua cama! – Gritou o avô, ao perceber, pelo barulho, que a neta descia as escadas. Ela parou subitamente, então os barulhos dos paços voltaram a aumentar de volume e tornaram a baixar, pois Alana, agora, se afastava da peça onde o avô se encontrava e rumava para o seu quarto.
            Ao ler a carta ficou aliviada, porém, confusa. Sentiu que a carta estava curta de mais e direta de mais. Não sabia dizer o motivo, mas logo creditou a sua mente saudosa e preocupada. Atribuiu também a expectativa proporcionada pelo atraso, logo, não deu mais bola para isso.
            Gostou muito da parte romântica. Ranzo não era um estereótipo de soldado. Era muito romântico. Alana sentia o peito aquecer e o corpo derreter, e, assim, como todo bom Nombarathiano, gargalhava na parte em que o namorado contava como matou dois Ishtarianos usando apenas uma faca. Primeiro fora cercado e estava sem munição. Em seguida se escondeu atrás de uma árvore de tronco muito expeço. Agachou-se e esperou. Quando viu o pé de um dos desgraçados, cravou-lhe a faca e, levantando-se com agilidade, fez um corte vertical no pescoço do infeliz, utilizando a mesma faca. O segundo, vendo que o companheiro não tinha mais salvação, disparou uma rajada de 10 tiros em Ranzo. O jovem soldado Nombarathiano usou o corpo da vítima como escudo e tomou abrigo novamente na árvore. O Ishtariano pensou que Ranzo iria utilizar a arma do companheiro abatido para contra-atacar, e isso levaria algum tempo, pois ele teria que tirá-la das mãos mortas do soldado e empunhá-la, então, girou nos calcanhares e correu em direção a uma árvore. Todavia, Ranzo não investira na submetralhadora do inimigo, apenas tomou abrigo. Em seguida, espiou o alvo e, vendo que corria, cometendo o grave erro de dar-lhe as costas, arremessou a faca, que acertou em cheio a nuca, dando fim a mais um Ishtariano nojento.
            Satisfeita com a façanha, aliviada pela carta e apaixonada pelo romantismo (e heroísmo!) do namorado, Alana foi para a cozinha preparar o jantar.
            Suspirava.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 2 de 7


            Alana voltava para casa acompanhada de sua melhor amiga, Leonora. Sempre que estavam juntas, evitavam falar do que a maioria das mulheres de Nombarath falava: de seus amigos, pais, irmãos, namorados, maridos, companheiros... Enfim, amores que lutavam na guerra. Era difícil. Algumas pessoas simplesmente não entendiam – algumas inclusive as repreendiam - como as duas conseguiam desvirtuar a mente de tamanha aflição. Nem elas mesmas sabiam dizer, mas, de alguma forma, obtiveram o êxito. Inclusive já debateram, certa vez, sobre o fato. A conclusão que chegaram fora de que tinham uma a outra. Não que as demais mulheres que conheciam não tivessem amizades, mas nenhuma outra podia dizer que tinha tão forte amizade como as duas possuíam uma pela outra. Tinham dezesseis anos e a vida pela frente. Eram amigas desde sempre. Estavam trabalhando na fábrica, em nome de seus amores e a pátria, suprindo a falta dos homens, para que a nação não parasse e para que fosse possível o envio de suprimentos aos soldados no campo de batalha.
            Sua cidade, Namkarath era uma das mais a leste do Reino. Apenas uma outra – Razor – ficava situada próxima à fronteira, oposta a Ishtar, com Marok, um pequeno reino vizinho e neutro a toda a essa rixa.
            Era noite, As ruas estavam cheias de mulheres na mesma condição. Retornavam a seus lares depois de dez horas de jornada de trabalho. Ficavam em casa somente os idosos – maiores de sessenta anos – e as crianças menores de doze.
            Apesar de não haver lua no céu, a noite era iluminada, artificialmente, pelos postes. Gigantes de cinco metros de altura feitos de cobre e com o seu topo retorcido setenta centímetros em direção à rua. Uma lâmpada projetava uma luz alaranjada no chão, fazendo um círculo de, aproximadamente, dois metros e meio sobre os recortes regulares de paralelepípedo que calçavam a rua.
            - O Ranzo não respondeu a última carta... – Alana não conseguiu conter a angústia pelo atraso inédito da resposta do namorado combatente. Leonora entendeu que a consternação da amiga deveria ter atingido seu limite, então resolveu confortá-la.
            - Calma, Lana. O Ranzo é um bom soldado. Se juntou as forças armadas desde criança e...
            - Eu sei... – Interrompeu – É que ele nunca atrasou e...
            - Quanto tempo faz? – Agora fora a amiga quem interveio.
            - Indo para o segundo dia...
            - Ah, deve ter dado algum problema com o transporte de correspondência. Não se preocupe. Agora vamos mudar de assunto, sim? Percebeu que Nosso Querido Soberano está sempre com a mesma roupa? Sempre com aquele paletó vermelho-encarnado, camisa branca e a gravata preta com a flor de Liz, o símbolo da princesa Isabela, bordada em dourado...
            - Pois é! Penso que seja algum tipo de uniforme ou traje especial para falar na televisão... Mas fica bem, não? Aquele cabelo negro e comprido até os ombros... Olhos claros...
            - Se ele não fosse Nosso Querido Soberano... Ai, acho que eu partia pra ofensiva hahaha!
            - Hahaha! Só pode ser louca... – Alana foi capturada novamente por pensamentos taciturnos – Como será que os meninos estão se saindo?
            - Quebrando cada pescoço nojento daqueles ratos asquerosos! – Leonora falou num misto de confiança e veemência – Pode apostar! Ranzo treinando as artes de guerra desde pequeno e o meu querido Thânos auxiliando ele com sua mira precisa, formam uma dupla imbatível! Além do mais, Nosso Soberano nos atualiza constantemente sobre a guerra.
            - Sim... É... Tens razão, Leô...
            - Relaxa, Lana. E não esqueça de que estamos ganhando. Nosso Soberano disse que os meninos estão próximos a Susamar, o ninho daquele país de ratos. Aposto que o Ranzo vai te trazer a orelha de um daqueles lixos.
            - Tomara... Tomara...
            Se despediram e Alana dobrou a esquerda no cruzamento, rumando para sua casa.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 1 de 7


            Um aviso de “Ao vivo em cadeia nacional” apareceu, assim que a televisão foi ligada.
            - Meus preciosos cidadãos e cidadãs! Eu, seu querido soberano, Zhalmyr Aquilinoyev, terceiro de seu nome, saúdo vocês por mais um importantíssimo, e vital, dia de trabalho em nossas fábricas e lavouras. Muito obrigado! No ritmo em que estamos, mostraremos a nação rival que não nos abatemos por causa dessa guerra. Guerra sagrada, da qual sairemos vitoriosos! Nossa gloriosa nação Nombaroth se manterá sólida para todo o sempre. Esmagaremos todo e qualquer rato asqueroso de Ishtar feito baratas! – Nesse momento, um coro “YEEEEEEEEEEEAAAHHHH!” se fez ouvir proveniente de todos os cantos da fábrica. Um coro totalmente feminino. – Desejo o mesmo empenho e dedicação nos novos dias que raiarão. Voltem em segurança para seus lares. Descansem bem e que Deus abençoe a todos nós! Boa noite! – E, assim, se encerra o pronunciamento oficial das dezoito horas. A televisão se apaga e todas as trabalhadoras rumam para os vestiários.
            Nombarath e Ishtar são nações rivais que nutrem um terrível ódio mútuo. No entanto, nem sempre foi assim. Qualquer criança lê em um livro escolar de história em Nombarath que a muito tempo atrás, cerca de seiscentos anos, as duas nações estiveram a um passo de se fundirem em um só grande e, provavelmente, mais poderoso reino do mundo. Mas a adorada Princesa Isabela, de Nombarath, foi encontrada morta em seus aposentos um dia após o casamento com o príncipe Nassir, de Ishtar. Não precisava ser nenhum perito para olhar a cena e saber que ela havia sido brutalmente assassinada. A vida da bela e adorada Princesa fora ceifada com vinte e três facadas, sendo somente o último golpe a provocar o óbito. Um punhal que pertencia a Nassir estava inserido no peito, à altura do coração, de Isabela. Além de desferir o golpe fatal, o agressor ainda teve a crueldade de girar, no sentido horário, o punhal, provocando maior estrago e dor.
            Interrogados, nenhum criado disse ter ouvido nada. Tanto Nombarathianos quanto Ishtarianos.
            A Princesa era querida por todo o reino de Nombarath, e todo o povo clamava por justiça, principalmente pela repugnância e brutalidade do crime. Assim, estourou uma guerra entre ambas as nações que resultou em milhares de mortos e feridos dentro do período de cem anos. Ambos reinos eram tão poderosos que se equiparavam e, com medo de que viessem a ficar mais fragilizados (e sem soldados para lutar), foi acordado um cessar fogo, pelos então reis, Aragonis I, de Nombarath, e Hassan IV de Ishtar.
            Cerca de cem anos atrás, um golpe de estado do general Zhalmyr Aquilinoyev I, derrubou o antigo rei, Aragonis XIII. Aquilinoyev I alegava que os Aragonis traíram o povo de Nombarath, alegando que Aragonis e Hassans eram “ratos imundos, membros de uma mesma família, traidores da memória da Santíssima Pátria Amada.”, e ordenou o extermínio de toda a família Aragonis e declarou guerra contra Ishtar. Dessa forma, mandou reunir o exército e começar a ofensiva.
            Com a longa duração da nova guerra, já alcançando novamente a casa dos cem anos, o atual soberano de Nombarath ordenou que todo homem maior de dezesseis e menor de sessenta deveria se juntar ao exército, mesmo já tendo sido instaurado por seu antecessor um plano de recrutamento voluntário de crianças a partir de oito anos de idade, para serem treinados nas artes de combate, e virem a serem utilizados em combate quando atingissem os dezesseis anos. Esses planos fazem parte da operação “Memória de Isabela”.