Alana
voltava para casa acompanhada de sua melhor amiga, Leonora. Sempre que estavam
juntas, evitavam falar do que a maioria das mulheres de Nombarath falava: de
seus amigos, pais, irmãos, namorados, maridos, companheiros... Enfim, amores
que lutavam na guerra. Era difícil. Algumas pessoas simplesmente não entendiam –
algumas inclusive as repreendiam - como as duas conseguiam desvirtuar a mente
de tamanha aflição. Nem elas mesmas sabiam dizer, mas, de alguma forma,
obtiveram o êxito. Inclusive já debateram, certa vez, sobre o fato. A conclusão
que chegaram fora de que tinham uma a outra. Não que as demais mulheres que
conheciam não tivessem amizades, mas nenhuma outra podia dizer que tinha tão
forte amizade como as duas possuíam uma pela outra. Tinham dezesseis anos e a
vida pela frente. Eram amigas desde sempre. Estavam trabalhando na fábrica, em
nome de seus amores e a pátria, suprindo a falta dos homens, para que a nação não
parasse e para que fosse possível o envio de suprimentos aos soldados no campo
de batalha.
Sua cidade,
Namkarath era uma das mais a leste do Reino. Apenas uma outra – Razor – ficava situada
próxima à fronteira, oposta a Ishtar, com Marok, um pequeno reino vizinho e
neutro a toda a essa rixa.
Era noite,
As ruas estavam cheias de mulheres na mesma condição. Retornavam a seus lares
depois de dez horas de jornada de trabalho. Ficavam em casa somente os idosos –
maiores de sessenta anos – e as crianças menores de doze.
Apesar de
não haver lua no céu, a noite era iluminada, artificialmente, pelos postes. Gigantes
de cinco metros de altura feitos de cobre e com o seu topo retorcido setenta
centímetros em direção à rua. Uma lâmpada projetava uma luz alaranjada no chão,
fazendo um círculo de, aproximadamente, dois metros e meio sobre os recortes regulares
de paralelepípedo que calçavam a rua.
- O Ranzo
não respondeu a última carta... – Alana não conseguiu conter a angústia pelo atraso
inédito da resposta do namorado combatente. Leonora entendeu que a consternação
da amiga deveria ter atingido seu limite, então resolveu confortá-la.
- Calma,
Lana. O Ranzo é um bom soldado. Se juntou as forças armadas desde criança e...
- Eu sei...
– Interrompeu – É que ele nunca atrasou e...
- Quanto
tempo faz? – Agora fora a amiga quem interveio.
- Indo para
o segundo dia...
- Ah, deve
ter dado algum problema com o transporte de correspondência. Não se preocupe.
Agora vamos mudar de assunto, sim? Percebeu que Nosso Querido Soberano está
sempre com a mesma roupa? Sempre com aquele paletó vermelho-encarnado, camisa
branca e a gravata preta com a flor de Liz, o símbolo da princesa Isabela,
bordada em dourado...
- Pois é!
Penso que seja algum tipo de uniforme ou traje especial para falar na
televisão... Mas fica bem, não? Aquele cabelo negro e comprido até os ombros...
Olhos claros...
- Se ele
não fosse Nosso Querido Soberano... Ai, acho que eu partia pra ofensiva hahaha!
- Hahaha!
Só pode ser louca... – Alana foi capturada novamente por pensamentos taciturnos
– Como será que os meninos estão se saindo?
- Quebrando
cada pescoço nojento daqueles ratos asquerosos! – Leonora falou num misto de
confiança e veemência – Pode apostar! Ranzo treinando as artes de guerra desde
pequeno e o meu querido Thânos auxiliando ele com sua mira precisa, formam uma dupla
imbatível! Além do mais, Nosso Soberano nos atualiza constantemente sobre a
guerra.
- Sim...
É... Tens razão, Leô...
- Relaxa,
Lana. E não esqueça de que estamos ganhando. Nosso Soberano disse que os
meninos estão próximos a Susamar, o ninho daquele país de ratos. Aposto que o
Ranzo vai te trazer a orelha de um daqueles lixos.
- Tomara...
Tomara...
Se
despediram e Alana dobrou a esquerda no cruzamento, rumando para sua casa.
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