terça-feira, 30 de outubro de 2012

FM Cafe 30/10/2012

      Ontem, dia 30, Mayara Floss e Fabiano Trichez (do blog entre-primos: http://entre-primos.blogspot.com.br/) Evandro Gomes, fundador do grupo "Poetas de Pijama da Furg" (http://www.facebook.com/groups/302710203133682/) e o Péricles (integrante da academia rio grandina de letras) fomos ao programa FM Café da Furg TV/FM conversar um pouco com a Rosane Borges sobre blogs, poesia, fotografia, furacão Sandy, e do livro do Poetas de Pijama que Mayara e eu estamos coordenando (http://www.sinsc.furg.br/site/ipoetasdepijama/)
   
 Aqui vai a entrevista na integra para quem quiser assistir:


Da esquerda para a direita: Evandro, eu, Péricles, Rosane, Mayara e Fabiano

As seis rosas


Aí estão seis rosas
Eu sei que preferes as violetas
Mas elas
Ao meu ver
Não representam a sua essência

As rosas são lindas e delicadas
Porém possuem espinhos
Que doem ao serem espetados
Mas não machucam
Nem causam feridas

As rosas tem um significado especial
E todo mundo reconhece uma
Quando olha para ela

Aí estão seis rosas
Cinco pelo nosso tempo
A que sobrou 
Simboliza nosso amor
Simboliza você
E simboliza o que sempre estará a minha frente

sábado, 20 de outubro de 2012

Epílogo


            Passei o dia pensando naquela guria. Mas que diabos!
            A falta de uma boa foda está começando a afetar a minha cabeça. Já tentei de tudo. Até joguei um balde d’água, que eu reservava para beber, por cima da minha cabeça. Soquei duas punhetas e ela simplesmente não sai da minha cabeça.
            Ela está ali, atirada no meio do corredor... Estava usando um lindo pijaminha branco e comprido. Calça e blusa. Com ursinhos amarelos e fofinhos espalhados por toda a roupa. Claro que, depois do estrago, ficou todo empapado de sangue.
            Estranhamente, o rosto dela está intacto. Claro... Teve uma certa decomposição, mas não houve ataque ali. Seu pescoço está dilacerado, mas o corpo está bastante inteiro.
            E que corpo, meu Deus! Exatamente o meu tipo. Cabelos castanhos e ondulados. Mas aquele ondulado elegante, como se ela recém tivesse saído do cabeleireiro. Seios durinhos e empinados. Magrinha... Ai meu Deus...
            Já sei, vou tocar um pouco do violão que eu encontrei aqui. Não faço ideia de como tocar, mas isso vai me distrair, com certeza.

            Bem, se passaram duas horas desde que eu comecei a tocar o violão e simplesmente não consegui fazer nada que preste. Resolvi, então, vasculhar a casa por algum trago e, o que eu encontro? Um Black Label pela metade! Será o meu companheiro pelo resto da noite, ou até eu acabar com essa garrafa.
            Uns amigos que eu tinha, que sabiam tocar instrumentos, diziam que quando você está bêbado, você toca bem melhor. Será que eu consigo virar um Zakk Wylde?

            O barulho atrai os monstros.
Será que vão escutar o violão e vir até aqui? 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Desbravadores


            As sondas voavam por Júpiter, Saturno e Urano. Pousaram em Marte e na Lua. Fora despachada uma para Vênus e Mercúrio, mas derreteram antes que percorressem um terço da distância inicial até o Sol.
            Enquanto isso Andrômeda continua inexplorada.
Assim como o fundo dos mares.
            As aventuras que o homem pensa em fazer.


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Inspirado na música "As aventuras que o homem quer fazer" da banda Riograndina Vampiros Nordestinos <<< clique para acessar o blog

sábado, 6 de outubro de 2012

Não atire no moribundo!

            Era uma saleta quadrada, do tamanho de uma sala de espera de pequenos consultórios médico. Estava escura e não tinha janelas. Uma mesa amarela velha logo abaixo de uma lâmpada incandescente de 40 watts, duas cadeiras de madeira na frente e uma atrás dela de couro rasgado e preto, aparecendo às espumas amarelas do estofamento, reclinável e giratória e com rodinhas. A sala tinha um pé direito alto o suficiente para um homem de um metro e oitenta centímetros ficar em pé e se sentir claustrofóbico. Havia um telefone vermelho, desses de girar o disco – que dá origem ao ato de “discar” um número para se telefonar -, uma folha de ofício, uma caneta bic que, pelo seu aspecto, deve ter sido achada no chão em algum lugar. Tudo em cima da mesa em notável desordem. No canto, atrás da mesa, tinha um armário de arquivo desses acinzentados e com três gavetas.
            Dois homens entram na sala. Um negro e um branco. O Negro entrou primeiro, acendeu a luz, suspirou e foi em direção a cadeira de couro. Carregava consigo uma pasta de couro preta mofada e desbotada. Largou-a em cima da mesa, sentou-se, abriu uma das gavetas da mesa, retirou dois copos e uma garrafa de uísque vagabundo, que estava pela metade, serviu uma dose nos copos, reclinou-se e botou os pés em cima da mesa, sujando de terra a folha de ofício. Estava de traje alto esporte todo preto. O branco se sentou numa das cadeiras de madeira e tentou ficar confortável e não conseguiu. Ele era moreno, cabelos pelos ombros e lisos, usava uma barba cerrada, porém curta. Pegou o copo e começou a bebericar. O Negro entornara o copo de uma só vez e servia uma nova dose.
            - Queria um cigarro agora mesmo. – Disse Dave, o branco.
            - Seria suicídio nessa sala sem janelas. – Disse Jones, o negro.
            - As coisas não andam bem.
            - Faz horas... – disse enquanto batia com a unha do dedo médio no copo.
            Ficaram em silêncio por um minuto. Jones serviu mais uma dose para cada um e depois disse:
            - A Williams não amadurece. Desde que aqueles dois bunda moles saíram da banda, eles não lançam nada novo, e já se vão aí quanto tempo? Três anos?
            - Não sei, não tenho os acompanhado.
            - Romancezinho adolescente só em livros, por favor, e olhe lá!.
            - Pois é... Mas tem esperança...
            - É... Osbourne reuniu a corja, Cornell e companhia também. Só falta o Vedder fazer outro “dez” e podemos respirar aliviados.
            - É o mesmo que pedir para o polaco ressuscitar e fazer “esquece” novamente.
            - Faz falta...
            - E como...
            - Tocava com ele, né?
            Dave não disse nada, apenas assentiu e terminou a sua dose. Jones foi servir novamente, mas ele gesticulou com a mão, fazendo o afro entender que não queria mais.
            - Vi nas notícias que aquela vaca não tem mais os direitos da imagem dele.
            - Finalmente. Consegui convencer a garotinha. Agora ela está com a gente.
            - Boa... Você fez um bom trabalho com o último álbum, Dave. Era o que estávamos precisando.
            - O teu último também não é de se jogar fora. – brincou com o amigo e ambos riram – Esse estilo “rockstar” de pegador também faz falta. É uma atitude que não se vê nessa gurizada.
            - Agora o pegador fala “e ela faz faculdade eu aqui aprendendo a dirigir” ou coisa do tipo.
            - É o resultado de dar uma guitarra para garotinhos mimados. Agora está assim, como se fosse um DVD da Meneghel.
            - Sei. Eu não acredito que as coisas chegaram aonde chegaram. O que foi que fizemos de errado?
            - Acho que começou lá com o Joe... Largaram o surf/punk e pintaram os olhinhos.
            - Ah... Acho que deve ter sido isso mesmo. Só precisou de um mau exemplo pra ferrar de vez com o esquema todo.
            - Acho que confundiram as coisas. Não fizeram mais músicas depressivas sobre questões adultas, mas sim sobre questões adolescentes. Agora temos um bando de barbados com crise que se tem dos quatorze aos dezessete anos. É patético... O polaco não era assim. Não mesmo...
            - Ah, o Loeffler vem fazendo algo parecido. Estão começando a estourar.
            - Verdade... O que me revoltou foi o Kroeger...
            - Nem me fala... Aquele violãozinho e com efeitinho de voz... Vomitei.
            - Faz falta o Polaco...
            - É... Aqui, beba mais um pouco.
            - Tudo bem. – Jones serviu mais uma dose e ficaram ali, sentados, esperando o tempo passar. Tentando entender quando que as coisas chegaram nesse ponto e como que aquelas porcarias que andavam tocando por aí tinham tomado os seus lugares. Era difícil de dizer. Talvez tenha sido a juventude que mudou, talvez não. Ou talvez o esquema tenha morrido só que os médicos ainda não deram a notícia ainda, ou, simplesmente, ninguém queria admitir.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As Crônicas de Folsom - Joe Bean


            O nascer do sol jorrava seus raios sobre toda a Califórnia. Viajava pela falha de San Andreas, atingia em cheio o letreiro de Hollywood e todos os estúdios que de cinema que a cidade possuía. Atravessava algum vão de uma porta qualquer, acertava as folhas de uma macieira. E cria a ilusão, em conjunto com a atmosfera, de que o céu diurno é azul.
            Um conjunto de raios em particular viajou pelo espaço, chegou até a cidade de Folsom, mais precisamente na prisão de Folsom. Para ser ainda mais específico, atingiu uma janela em especial. Uma que não possuía vidros, apenas três barras de ferro de uma polegada de espessura cada. Alguns desses raios chegaram as pálpebras de um jovem rapaz, que estava deitado na cama dessa cela.
            Com a luminosidade, Joe acordou. Estava com frio, uma vez que não tinha nenhum tipo de coberta para se tapar durante o sono. Esfregou os braços para tentar aquecer o corpo. Olhou na parede o calendário improvisado que fez, para saber precisar a passagem do tempo. Sorriu. Era seu aniversário. Completava hoje vinte anos. A felicidade, assim como veio, se foi, dando lugar a melancolia, afinal, ironicamente, hoje era o dia em que sua sentença seria cumprida.
            Escutou um martelar do lado de fora, no pátio, o que lhe fez os pelos da nuca se arrepiarem e um bolo se formar em seu estômago. Segurou-se em duas das três barras, fez um pouco de força, e conseguiu erguer o corpo os quarenta centímetros necessários para conseguir ver o pátio da prisão. Estavam construindo, ali, a forca. Seu destino final.
            Lembrou-se que, em sua última carta, mamãe havia dito que estava indo ao capitólio, para pedir ao governador por um pronunciamento sobre sua terrível sentença, afinal, Joe era inocente! E ela tinha como provar.
            Joe rezava. É o que lhe restava. Fora condenado pela morte de vinte homens no estado do Arkansas. Como poderia matar vinte homens no Arkansas sem nunca ter ido ao Arkansas? E melhor, como ELE poderia matar vinte homens no Arkansas numa época em que tinha apenas dez anos de idade? Não sabia. Sabia apenas que tinha sido preso e condenado à morte... Antes tivesse matado os vinte infelizes.
            - Joe Bean! Joe Bean! – Uma voz grave chamava por seu nome. Reconhecia a voz, era o tenente Viper.
            - Cela 10! – Respondeu Joe. O homem parou de gritar seu nome e só caminhava. Alguns presos praguejavam por causa do escarcéu, pois queriam dormir. O estalar dos coturnos do policial aumentavam e ele fazia questão de gritar para os presos que protestavam contra o barulho para que calassem as malditas bocas.
            - Joe Bean, você vai tomar café cedo hoje. Cortesia do Sr. Folsom pelo seu último dia aqui. – Viper abriu um sorriso sarcástico. Joe nunca se abalava com o jeito petulante do policial, mas aquilo que acabara de fazer foi o ato mais anti-humanitário que já sofrera. O sujeito tinha colhões para fazer piada com a cara de um homem, em seu último dia de vida, exatamente por esse motivo: Era seu último dia de vida. Viper deu a ordem para que Joe virasse de costas e colocasse as mãos no vão que há entre as grades. O condenado acatou e o policial algemou suas seus pulsos, logo em seguida abriu a porta da cela e ordenou que Joe o acompanhasse.
            - O que tem para comer? – Perguntou Joe.
            - O de sempre. Só que agora vem um ovo frito e estarás sozinho. Em paz. Sem a presença desse monte de merda.
            - Quanta gentileza. – Ironizou.
            O café foi a mesma merda sem gosto de sempre, e, como o policial tinha dito, veio um ovo frito. Mas estava frio. E sem sal.
            - A hora da sua sentença saiu, Joe Bean. Será as duas da tarde. – Viper falou assim que o recolocou na cela.
            - Alguma correspondência da minha mãe ou do capitólio? – Viper riu.
            - E porque o capitólio iria querer falar com você, seu merdinha?
            - Porque sou inocente. – Viper riu mais alto.
            - Claro que é. – Disse ao meio das risadas enquanto enxugava uma lágrima.
            Não era justo. No dia em que o tal assassino matou os vinte caras, ele tinha dez anos de idade, porra! Como poderia ter matado vinte caras!? Aliás: “Eu estava em Santa Fé... Cometendo pequenos delitos... Batendo carteiras... Roubando dinheiro do lanche de meninos e meninas defronte algumas escolas de riquinhos que faziam pose de quem tinha classe...”, pensou. Bateu com a cabeça na parede algumas vezes. Como queria ter, pelo menos, matado algum dos caras para merecer esse fim miserável.
            Ao meio dia, Viper, novamente, retornou a sua cela.
            - Tens direito a uma última refeição ou a um maço de cigarros e um banho de sol de uma hora exclusivo, ou... – o policial falou entre dentes visivelmente enraivecido – Uma garrafa da bebida que quiser. – O homem estava vermelho de raiva - Você que escolhe.
            - Pode ser uma garrafa da Vodca mais vagabunda que vocês tiverem aí...
            - Isso aqui não é um maldito bar e eu não sou a porra dum barman para ficar servindo um pedaço de merda que nem você. – Viper bateu com o cassetete na cela, fazendo o barulho característico do ferro chacoalhando, virou as costas e saiu praguejando, dizendo que iria falar com o diretor a respeito de parar de enviá-lo para ser garçom de filho da puta assassino. Joe sorriu, pois sabia que nessa ocasião, eles davam o que o preso pediam e Viper deveria trazer o seu último pedido.
            Tomou toda a Vodca e, logo, chegou a hora.
            - Joe Bean! Joe Bean! – Uma nova voz chamava por si. Era uma voz mais aguda dessa vez, indicando que era o sargento Matlock.
            - Cela 10! – Gritou com a voz embriagada.
            - Vamos, Joe... – O homem era mais novo que Viper e, visivelmente, mais mole. Odiava quando o faziam escoltar um condenado a morte. Era sempre muito triste, por mais que fosse um filho da puta matador de criancinhas. Não era o de Joe, mas era sempre triste. Joe pôs os punhos no vão e o homem o algemou.
            Em sua caminhada até o pátio, alguns presos debochavam, outros lhe desejavam paz e outros ainda não davam a mínima. A maioria dizia “Te vejo no inferno.”. Joe estava feliz, pois estava bêbado. Afinal, conseguiu tomar um porre no seu último aniversário. Sorriu quando pensou que, se estivesse sóbrio, poderia sentir alguma dor. “Aquela garrafa de Vodca foi a melhor escolha da minha vida.”. Joe deu uma gargalhada. Matlock ficou perturbado. Nunca iria se acostumar com as diferentes reações que cada homem tinha minutos antes de sua morte anunciada. Decidiu que, depois disso, iria pedir sua transferência. O dinheiro a mais que recebia por trabalhar na prisão não estava compensando.
            Joe subiu as escadas que levavam ao palanque onde a forca fora montada. O carrasco estava a postos. Então o autofalante do pátio deu uma forte microfonia, fazendo, os que podiam, cobrir os ouvidos. Uma voz metálica saiu dali em alto e bom som. Era a voz do diretor:
            - Atenção Joe Bean! Atenção! Temos uma mensagem direto do capitólio e assinada pelo governador. – Joe sorriu de alegria, era a sua salvação! O diretor pigarreou. – “Ouvi sua comovente história, senhor Joe Bean. A Sua mãe veio pessoalmente até Washington D.C., falou com todas as minhas secretárias e esperou incansavelmente até que eu tivesse uma brecha em minha agenda para poder falar-me. Foi uma tremenda falha da Justiça dos Estados Unidos da América ter marcado a sua execução no dia de seu aniversário. Mas eu não posso fazer nada em relação a isso. Tudo o que posso fazer é me juntar a sua mãe e lhe desejar um feliz aniversário.”. – Então o autofalante ficou mudo. Segundos depois, Joe não ouvia mais som nenhum.