quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Algo que você não consegue entender" - Mônica e Alfredo pt.4

    Alfredo apertou o botão para o último andar. Ficaram em silêncio até o elevador parar no destino que escolheram. Não foi um silêncio constrangedor. Ambos estavam fazendo uma introspecção. Alfredo buscando coragem e Mônica, em busca de não derreter ali mesmo. Olhava para Alfredo. “E daí que é muito mais velho que eu?! Me tratou melhor do todos da minha idade! E até que ele não é feio como a maioria diz. É um ótimo cara E pões ótimo!”. Corou.
     O elevador chegou
    Verificaram se o mesmo se encontrava parado no andar, saíram e dobraram a esquerda. Tomaram a escadaria e subiram mais um andar, para a cobertura, onde o elevador não tinha acesso. Alfredo saiu primeiro. Mônica botou os pés na cobertura, arregalou os olhos e abriu a boca.
      Lindo!
    O céu assumia uma cor alaranjada. A ausência de nuvens e de bloqueios no horizonte tornava-o extremamente amplo e profundo, como se estivessem mirando o fundo de um oceano de águas extremamente cristalina. E como se este estivesse vindo de encontro a suas faces, causando um frio na barriga. Uma sensação bizarra de estar caindo para cima.
    A água da Lagoa que cerca a cidade em todas as direções - exceto oeste – refletia o alaranjado. Notando isso, Mônica teve, agora, a sensação de estar em uma outra dimensão. Um lugar onde não existia cima nem baixo. Era essa a sensação, pois o céu se unia a lagoa e a junção das cores apagava a linha do horizonte. Girou a cabeça levemente a esquerda e conseguiu avistar uma ilha. Teve um ligeiro alívio, pois essa ilha lhe fez lembrar onde ficava o “em baixo”. Essa ilha contrastava lindamente com o céu e lagoa alaranjados, pois era de um verde exuberante e imenso. Era o maior pedaço verde dentre os três existentes em sua visão. Apertando um pouco os olhos, era possível ver na ponta superior dos verdes, uma cor amarelada, que dançava ao sabor do vento, característica dos juncos. Outras plantas completavam a beleza da vegetação estuarina como pequenos arbustos que não conseguia recordar o nome.
    A brisa, vinda da laguna, tocava com força moderada os cabelos de Mônica, fazendo-os balançarem graciosamente. Incrivelmente, era um dia de pouco vento. Perfeito.
Alfredo olhou para a paisagem e depois para Mônica. Repetiu a ação e, então, afastou-se da menina e chegou próximo ao parapeito. Olhou novamente para a paisagem e depois para a menina. Olhou para a rua lá em baixo e, mais uma vez, para Mônica.
    - É, prefiro essa imagem. - E apontou para Mônica, com um sorriso nos lábios e um pouco corado. A menina baixou a cabeça, encabulada.
    - Pára... - Miou.
    - Queria te agradecer, Mônica, pelo melhor dia da minha vida.
    - Que isso, Alfredo... - ainda encabulada e olhando para baixo.
    - Fala sério. Nunca fui tão feliz! - Mônica foi se aproximando. Alfredo abru os braços – Sente essa brisa?
    - Uhum! - Assentiu enquanto se aproximava, agora de cabeça erguida.
    - Fica melhor ainda com o seu cheirinho, que ela me trás até aqui.
    - Pára, Alfredo... - Miou novamente e baixou a cabeça, mais uma vez vítima de um rubor.
    - Adeus, Mônica. - Ela estacou e ergueu a cabeça de sopetão. Não viu nada. Correu até o parapeito. Alfredo caia. Sorria. Estava feliz.
    Caia, caia e sorria.
    De braços abertos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

"Algo que você não consegue entender" - Mônica e Alfredo pt.3

    Alfredo passou o dia inteiro mexendo no celular. Fuçava. Ria. Fuçava novamente. Ria mais um pouco. Se pudessem, os outros rapazes o matariam. Ali. Naquele momento. Outros passaram a respeitá-lo. Instantaneamente. José, por exemplo, foi até ele com um sorriso no rosto. “Respeito.”, ele disse. Cerrou o punho e deu um soquinho no punho também cerrado do Alfredo. Outros, pareciam mulherzinhas invejosas. Só faltavam fazer aquelas caras de nojo e levantar o nariz. Eu fiquei pensando que nunca, jamais, em hiótese alguma eu veria alguém invejando o Alfredo no quesito “mulher”. Acho que fiquei com um pouco de inveja também, não sei dizer. Mas não acreditava em eus olhos. Isos que eu era o único da loja que se podia dizer que era amigo dele. Na verdade, eu era o único cara que conversava com ele. Bem, depois do José, ao dizer “respeito”, eu era o único.
    Algumas das “marias invejosas” vieram me perguntar se eu sabia o que diabos se passava.
    - Ah, não fode, meu. Pra que esconder? Fala aí
    - Não sei, cara.
    - Tu és o único que conversa com esse cara. Vamos, diga o que há, sim?
    - Não sei, cara.
    - Aff...
    Simplesmente não acreditavam em mim.
    E assim foi, até Alfredo encerrar seu expediente. Ele me deu tchau e me abraçou.
    - O que tu vais fazer? - Perguntei.
    - Vou me encontrar com ela... - ele estava muito nervoso – Na casa dela. - Acho que fiquei nervoso quandoe ele disse isso. Nervoso por ele. Inveja também. Definitivamente. E embasbacado.
    - B-boa sorte...
    - Valeu... Amanhã eu te conto como foi.
    - Não tem expediente.
    - Tomando um chopp.
    - Ah, ok então. - nunca tinhamos combinado nada disso.
     Todos os fatos agora não foram presenciados por mim, e sim relatados.
    Alfredo foi no café da Clô e repetiu o pedido da manhã. Deixou mais da metade no prato e nem tocou no café. Quinze minutos depois estava na frente da casa dela.
    Era um sobrado bege com porta e janelas brancas. Tocou a campainha e esperou. Suas mãos tremiam. Barulho de chave na porta. Ele tinha pedido para a menina matar aula e ela acatou. Ele suava. Ela abria a porta com um sorriso no rosto. Alfredo entrou.
     Uma hora depois, os dois sairam da casa dela. Caminhavam pela rua. Riam.
    - Se eu soubesse que tu eras assim, Alfredo, já podíamos ter feito isso mais vezes.
    - Desculpe, é que só hoje eu consegui criar a coragem.
    - Sou tão horrível assim de encarar que é preciso criar coragem? - Ela fez beicinho.
     - NÃO! Não... Muito pelo contrário... - Ele suava.
    - Estou brincando, seu bobo. - ele ficou aliviado – Onde vamos agora? - ela pegou em sua mão e fez uma carinha de anjo.
    - Deixa eu ver que horas são... - consultou o relógio – Está perto do pôr-do-sol. Sei de um lugar ótimo! Vem comigo! - Puxou-a pela mão e apertou o passo.
    Chegaram ao pé do edifício mais alto da cidade, o Léfè. 60 metros de altura. Entraram e dirigiram-se até o elevador.
     - A coisa mais romântica que fizeram comigo foi me levar no shopping pra comer pipoca e assistir a um filme de comédia. - Ela deu uma risada.
     - Crianças... Eu posso te garantir que hoje vais er inesquecível – Deu um sorriso que derretou na hora o coração da menina.
     Entraram no elevador.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Algo que você não consegue entender" - Mônica e Alfredo pt.2

Buenas, pessoal... Aqui vai a continuação de um conto que eu to devendo a alguns meses já. Desculpas para quem gostou e estava querendo saber a continuação da história de Mônica e Alfredo. Para os que nem lembram e querem saber, clique aqui.

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    Nosso café chegou e nós falávamos trivialidades. Ele queria porque queria que eu assistisse aquela série “Desperate house-alguma-coisa”, mas eu ainda insistia que não iria fazer isso.
    - Me diz, cara. Eu já estou a ponto de ter um troço aqui! O que tu vais fazer? - Não conseguia entender a excitação nem a curiosidade.
     - Já disse, só lá na F.
    - Mas que merda... - Protestei.
    - Só mais duas mordidas no meu sanduíche e vais saber. - Eu já tinha terminado o meu café.
    Assim, duas mordidas e uma “pagada” de conta depois, estávamos na F. Fomos até o vestiário, pôr os uniformes.
    Há um mistério em relação ao Alfredo. Ele não é assim, descontraído, extrovertido... Feliz... Ele tem 36 anos e nunca foi visto, pelo menos durante os cinco anos que eu conheço ele, com uma mulher. Existem algumas... “teorias”... Em relação a ele. Ouvi caras apostando uma vez sobre isso. Literalmente apostando. E alto! Cem reais. As opções eram: 1) Viúvo; 2) Traumatizadamente divorciado; 3) Virgem; e 4) (acreditem se quiserem) Pedófilo. Apostei na 3, mas não conseguiu-se ainda nenhuma prova de nada disso. Minha teoria: Apenas olhando a pobre alma. Acho que ninguém, hoje, sairía na rua de suspensórios. calça jeans bege, camisa social amarelo-mostarda e os malditos suspensórios marrons. Fora as desgraçadas meias até a metade da canela. Tá certo que, de calça ninguém nota, mas, porra, já vi a criatura de bermudas. Sapatos marrons. Ele provavelmente era loiro ou até mesmo albino – ele é careca -, não sei dizer. Mas, quando deixava o cavanhaque crescer era uma conclusão perfeitamente plausível. Óculos fundo de garrafa. Ele não é um debilóide. Pelo contrário, extremamente inteligente. Infelizmente, as pessoas se ofendem quando descobrem que uma pessoa é mais inteligente que elas.
    Colocamos o uniforme. Calça social preta, sapatos pretos e camisas sociais vermelhas. Sem gravatas. Saímos do vestiário.
    - Me dá uma dica, Alfredo! - Implorei. Ele estacou. Virou-se para mim com uma cara de impaciência. Parecia pensar no que ia dizer. Não foram nem dois segundos, mas pareceu um minuto para a minha ansiedade.
    - Ok! É sobre a Mônica. Deu! Não falo mais nada! - Agora fui eu quem estacou. De verdade. E nem percebi. Estaria Alfredo pegando a princesinha, a musa, a pequena delícia da loja? “A” Mônica? Nah... Não! Claro que não. Imagina! “HAHAHAHAHAHA”, eu pensava. Até deixei escapar uma risada discreta. Segurei.
    Foi então que a bela estagiariazinha chegou no recinto. Suspiro dos marmanjos a volta. Inveja das cobras e serpentes. Ela estava em cima da hora, então, passou correndo por nós, mas não sem... miar... “ois” para todos. Algumas colegas visivelmente sem sexo caçoavam dos meigos “ois”, outras tomavam conta de seus afazeres, e outras apenas faziam cara de nojo.
    Cinco minutos depois, ela saiu do vestiário feminino. Saia social preta, sapatos de salto – pezinho 35 equilibrando dezessete aninhos com um metrinho e 60 deliciosos centímetros – camisa social feminina branca, infelizmente com todos os botões fechados. A camisa lhe caia muito bem.Na verdade, parecia que tinha sido desenhada nas curvas da bela moreninha dos olhos verdes, pois as acentuava. Era possível ver o sutiã, mas não revelava nada de mais. Ela não era uma puta assanhada. Era uma peça comportada. Mas, para nós, marmanjos, podia ser uma droga de um bege broxante, que veríamos um vermelho de rendinha.
    Assim que a menina saiu dos vestiário, marmanjos surgiram de todos os lados. “oi, Mônica!” acompanhado do melhor sorriso que podiam dar; “Oi guriazinha” e tentavam não babar tanto e, “Está linda hoje, heim! (suspiro)” eram frases já rotineiras que bombardeavam aquelas doces e delicadas orelhinhas. Ela retribuiu os cumprimentos e fugiu deles de forma totalmente descarada, mas mesmo assim, delicada e educada. Só ela conseguiria tal façanha.
    Mônica, Alfredo e eu nos dávamos bem. Pode-se dizer que éramos amigos, pelo menos durante as minhas 8 horas, as 6 do Alfredo e as 4 dela. Eu tenho família. Uma mulher e um filho pequeno. Então, não tenho muito tempo de sobre para sair com o pessoal do trabalho – se tivesse, eu acabaria fazendo alguma merda – ou fazer novas amizades.
    Mônica desfilava em nossa direção, causando inveja dos abutres. Inclusive ciúmes.
    - Oi rapazes! - Ela sorriu.
    - E aí, menina? - Respondi.
    - Tudo bom? - Perguntou Alfredo. Que, em seguida, abraçou-a e lhe deu um beijo na bochecha. Por um breve instante o tempo congelou. Alfredo sempre foi ultra tímido. Nunca tocara nela.
    - Tudo. - Ela respondeu, também estranhando e retribuiu o beijo. Senti olhares de incredubilidade vindo em nossa direção. Estranho como os se homens parecem com mulheres as vezes.
    Batemos um papo rápido e logo começamos nossos afazeres. Assim que Mônica foi para a entrada da loja, tentar vender cartões da mesma, olhei para Alfredo:
    - O que deu em ti? Por essa eu não esperava mesmo!
    - Está só começando. - Falou sorrindo. Um sorriso diferente. Se via determinação ali. Algo que, até então, aparentemente jamais tinha se manifestado naquela carcaça ambulante.
    - Ela só tem 17... Pode dar muita merda pra ti... - Adverti.
    - Não te preocupa. Eu sei o que estou fazendo.
    Cara, eu não sei que livro ele leu ou que palestra assistiu, mas, definitivamente, era outro homemm que estava ali, na minha frente.
     Perto do horário do almoço, a menina dirigia-se até o vestiário. Foi então que aconteceu! Alfredo largou o que estava fazendo na hora e voou em direção a jovem. Eu estava atendendo, então, só consegui ver de rabo de olho. Alfredo parou Mônica e falou-lhe algo no ouvido. Ela fez cara séria e cochichou de volta. O cliente perguntou se eu estava com algum problema. Pedi desculpas e... foda-se voltei a espiar os dois. Ele falou-lhe novamente e... Ela se riu toda! Então, falou mais alguma coisa e deu-lhe um delicioso e carinhoso beijo na bochecha. Assim que mônica entrou no vestiário, eu me desculpei mais uma vez com o cliente, e Alfredo mexia em seu celular. Anotava algo lá. O número do telefone dela! O que veio a ser confirmado mais tarde. O tempo pareceu parar enquanto eu processava aquela imagem. Pareceu, porque o cliente estava se movendo perfeitamente e eu quase o perdi.