domingo, 28 de abril de 2013

Autoautoajuda

As alunas não vieram
E eu mato tempo escrevendo

Ganhando ânimo
achando que um dia
vou escrever algo
que vá mudar a vida de alguém
como os escritores de verdade fazem

Aprendi que a poesia não precisa de rima

Aprendi que para escrever poesia
tu precisas é de um par de bolas
seja no teu peito
ou que fiquem alojadas lá embaixo
entre as pernas

Eu não sei rimar

Mas tenho bolas
Ou pelo menos enfio a cara e espero o tapa
o soco e o chute
de olhos abertos

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Merda em 2 atos

Ato 1

Afinal de contas
Que merda eu estou fazendo?

A merda do mundo enlouqueceu
E eu querendo mandar tudo a merda
Escrevendo poemas

Afinal de contas
Que merda eu estou fazendo?

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Ato 2

O mundo enlouqueceu
Daqui a pouco a nova MPB
está no topo da Billboard
E eu escrevendo poemas
xingando essa porra toda fodida
para que meia duzia leia e concorde

Não sei se para puxar o saco
Afinal, puxar o saco de "poeta"
É mais sem sentido do que a merda do mundo que enlouqueceu

É para não perder o amigo?
...

Mas o mundo não vai mudar
Meus poemas ninguém vai comprar
Porque, no fim, eu nem sei rimar
Mesmo rimando

Afinal de contas
Que merda eu estou fazendo?

domingo, 21 de abril de 2013

Encerramento

            Franco despertou frustrado naquele dia. O caso havia se encerrado a mais de cinco anos, mas seu subconsciente volta e meia resolvia pregar-lhe uma peça. Era sempre a mesma coisa. Chegava ao lugar onde a pessoa estava. Quando a avistava, sentia o cérebro remoendo. Dizia-lhe “Afaste-se! Não faça contato”. Da primeira vez conseguia resistir a tentação, entretanto, logo a pessoa aparecia na sua frente novamente, e ele não conseguia resistir.
            - Pô... Faz tempo que não vens me visitar, heim?! – E a pessoa abria um sorriso extremamente convidativo e simpático.
            - Desculpe-me, mas é que eu fico meio sem jeito de aparecer e... – Respondia encabulado.
            - Que é isso... Podes vir. Sabes que estás sempre convidado. As portas estão abertas. – A pessoa não desmanchava o sorriso.
            Sentia, sobretudo, admiração. Era uma pessoa fantástica. E se emocionava sempre durante esses sonhos.
            Porém, o despertar era sempre frustrante, melancólico... Como uma manhã chuvosa do mês de junho.
            Franco levantava da cama e esta sensação lhe corroia durante o dia inteiro. Por vezes, levava um ou dois dias para amenizar. Durante os primeiros meses, após a despedida, os sonhos eram muito frequentes – quase que diários – mas o passar do tempo foi suprimindo a periodicidade. Três anos depois, a ocorrência era apenas semanal, e hoje quinzenal.
            Apesar de toda a frustração, sentia, no fundo da alma, que gostava dos sonhos. Não sabia o porquê. Talvez fosse uma forma de manter contato com um passado distantemente recente. Sentia que não valia a pena ficar pensando a respeito porque se o fizesse enlouqueceria, e quando não o fazia, enlouquecia.
            Sentia que deveria ir até lá. Que o estavam chamando. Já era hora de um verdadeiro encerramento. Determinou-se. Criou coragem. Tomou seu café...
            E a vontade passou.

terça-feira, 9 de abril de 2013

As Crônicas de Folsom - A estrada de ferro pt. 3 de 3

            - Eu estou em um trem? É isso? – Perguntou para aquela figura infernal que sorria exibindo, no mínimo, o triplo de dentes que um ser humano possui, sendo todos pontiagudos e perfeitamente (e assustadoramente) brancos.
            - Isso mesmo, gênio! – Zombou e caiu numa gargalhada grave e desprovida de senso de humor genuíno. Era algo mais compulsivo e insano, mostrando a Billy que era a mesma que ele ouvia anteriormente e encerrando o mistério de sua origem.
            - Mas o que diabos eu estou fazendo aqui?! Eu estava no meu caminhão e...
            - Com licença, senhor. – alguém lhe falou enquanto cutucava o seu ombro direito por trás. Era possível sentir o fio de uma garra afiadíssima. Billy girou sobressaltadamente sobre seus calcanhares e viu um homem trajando um smoking negro finíssimo, gravata borboleta, cabelo e barba aparados impecavelmente... Porém sua pele era tão pálida que chegava próxima a uma tonalidade azulada. Tinha os olhos totalmente negros e as garras, que agora se revelavam presentes em cada um dos seus seis dedos das duas mãos, tinham todas uma tonalidade escarlate e um brilho que, ao oposto do que a cor sugeria, carregava uma sensação gelada que subia pela espinha de qualquer um. – O senhor gostaria de um charuto ou de alguma bebida? – Perguntou com um tom convincentemente e extremamente educado e sincero. Sua voz era suave mas penetrante. Não se podia dizer se era uma voz grave ou aguda de mais. Era um equilíbrio perfeito.
            - Mas, afinal, onde estou? – Só conseguiu pensar nisso.
            - O senhor se encontra na ferrovia Thunder Dope. Estamos a bordo do Caronte III a caminho do Styx. – e lhe sugeriu o charuto e uma garrafa de licor. Billy estacou por um momento sem dizer nada.
            Nessa fração de mudez, só se ouvia a gargalhada daquela criatura que utilizava roupas de maquinista.
            Então, Billy deu de ombros e pegou um dos charutos e a garrafa.
            - E quem é você? O Diabo, eu presumo...
            - Oh, não senhor, não... Sou apenas um humilde condutor... – E estalou os dedos. Na escuridão do fundo do vagão, abriu-se uma porta. Selvagens labaredas lambiam o vão da mesma, cuspindo de suas entranhas uma silhueta que se aproxima a passos hesitantes. Um par de saltos altos ressoava. Era possível distinguir que os contornos pertenciam a uma mulher e, gargalhadas depois, que já haviam saído da zona do “aterrorizante” e caminhado, diferentemente da mulher, a passos largos e decididos para a margem do “irritante”, podia-se distinguir os seus traços com detalhes.
            Era uma jovem com cabelos ruivos – laranjas como carvão em brasa. Seus olhos verdes como esmeraldas exibiam uma expressão de profunda agonia e manchas de lágrimas de sangue, já negro, pútrido e coagulado, escorriam dos olhos até a ponta do queixo. No entanto, ostentava um lindo sorriso. Dir-se-ia que era a mulher mais feliz do mundo. Entretanto, fungava e soluçava como fazem os chorosos, o que tornava o sorriso algo misticamente congelado e amarelo. Vestia um collant preto, saltos altos, uma gargantilha com espinhos de ossos, e possuía um lindo corpo. Diferente do maquinista e do condutor, tinha um aspecto totalmente humano. Em suas mãos, carregava uma bandeja de prata com uma caixa de charutos, whisky, absinto, vodka e toda a sorte de copos.
            - Essa é Sabrina. Ela será a sua garçonete. Estará eternamente a sua disposição.
            Billy arqueou as sobrancelhas exibindo toda a sua surpresa e deu uma boa examinada na moça.
            - Para o que eu quiser? – Perguntou.
            - Para o que quiser. – Respondeu o condutor.

             Billy deu de ombros e sorriu. Só esperava que o inferno fosse um ótimo lugar.
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Inspirado nas canções "Estrada de ferro Thunder Dope", "Todo ódio da vingança de Jack Bufallo Head", "E tudo vai ficar pior" e "Quanto mais feio" do Matanza, e "I Still Miss Someone" de Johnny Cash