terça-feira, 9 de abril de 2013

As Crônicas de Folsom - A estrada de ferro pt. 3 de 3

            - Eu estou em um trem? É isso? – Perguntou para aquela figura infernal que sorria exibindo, no mínimo, o triplo de dentes que um ser humano possui, sendo todos pontiagudos e perfeitamente (e assustadoramente) brancos.
            - Isso mesmo, gênio! – Zombou e caiu numa gargalhada grave e desprovida de senso de humor genuíno. Era algo mais compulsivo e insano, mostrando a Billy que era a mesma que ele ouvia anteriormente e encerrando o mistério de sua origem.
            - Mas o que diabos eu estou fazendo aqui?! Eu estava no meu caminhão e...
            - Com licença, senhor. – alguém lhe falou enquanto cutucava o seu ombro direito por trás. Era possível sentir o fio de uma garra afiadíssima. Billy girou sobressaltadamente sobre seus calcanhares e viu um homem trajando um smoking negro finíssimo, gravata borboleta, cabelo e barba aparados impecavelmente... Porém sua pele era tão pálida que chegava próxima a uma tonalidade azulada. Tinha os olhos totalmente negros e as garras, que agora se revelavam presentes em cada um dos seus seis dedos das duas mãos, tinham todas uma tonalidade escarlate e um brilho que, ao oposto do que a cor sugeria, carregava uma sensação gelada que subia pela espinha de qualquer um. – O senhor gostaria de um charuto ou de alguma bebida? – Perguntou com um tom convincentemente e extremamente educado e sincero. Sua voz era suave mas penetrante. Não se podia dizer se era uma voz grave ou aguda de mais. Era um equilíbrio perfeito.
            - Mas, afinal, onde estou? – Só conseguiu pensar nisso.
            - O senhor se encontra na ferrovia Thunder Dope. Estamos a bordo do Caronte III a caminho do Styx. – e lhe sugeriu o charuto e uma garrafa de licor. Billy estacou por um momento sem dizer nada.
            Nessa fração de mudez, só se ouvia a gargalhada daquela criatura que utilizava roupas de maquinista.
            Então, Billy deu de ombros e pegou um dos charutos e a garrafa.
            - E quem é você? O Diabo, eu presumo...
            - Oh, não senhor, não... Sou apenas um humilde condutor... – E estalou os dedos. Na escuridão do fundo do vagão, abriu-se uma porta. Selvagens labaredas lambiam o vão da mesma, cuspindo de suas entranhas uma silhueta que se aproxima a passos hesitantes. Um par de saltos altos ressoava. Era possível distinguir que os contornos pertenciam a uma mulher e, gargalhadas depois, que já haviam saído da zona do “aterrorizante” e caminhado, diferentemente da mulher, a passos largos e decididos para a margem do “irritante”, podia-se distinguir os seus traços com detalhes.
            Era uma jovem com cabelos ruivos – laranjas como carvão em brasa. Seus olhos verdes como esmeraldas exibiam uma expressão de profunda agonia e manchas de lágrimas de sangue, já negro, pútrido e coagulado, escorriam dos olhos até a ponta do queixo. No entanto, ostentava um lindo sorriso. Dir-se-ia que era a mulher mais feliz do mundo. Entretanto, fungava e soluçava como fazem os chorosos, o que tornava o sorriso algo misticamente congelado e amarelo. Vestia um collant preto, saltos altos, uma gargantilha com espinhos de ossos, e possuía um lindo corpo. Diferente do maquinista e do condutor, tinha um aspecto totalmente humano. Em suas mãos, carregava uma bandeja de prata com uma caixa de charutos, whisky, absinto, vodka e toda a sorte de copos.
            - Essa é Sabrina. Ela será a sua garçonete. Estará eternamente a sua disposição.
            Billy arqueou as sobrancelhas exibindo toda a sua surpresa e deu uma boa examinada na moça.
            - Para o que eu quiser? – Perguntou.
            - Para o que quiser. – Respondeu o condutor.

             Billy deu de ombros e sorriu. Só esperava que o inferno fosse um ótimo lugar.
***************************************************************
Inspirado nas canções "Estrada de ferro Thunder Dope", "Todo ódio da vingança de Jack Bufallo Head", "E tudo vai ficar pior" e "Quanto mais feio" do Matanza, e "I Still Miss Someone" de Johnny Cash

Nenhum comentário:

Postar um comentário