domingo, 21 de abril de 2013

Encerramento

            Franco despertou frustrado naquele dia. O caso havia se encerrado a mais de cinco anos, mas seu subconsciente volta e meia resolvia pregar-lhe uma peça. Era sempre a mesma coisa. Chegava ao lugar onde a pessoa estava. Quando a avistava, sentia o cérebro remoendo. Dizia-lhe “Afaste-se! Não faça contato”. Da primeira vez conseguia resistir a tentação, entretanto, logo a pessoa aparecia na sua frente novamente, e ele não conseguia resistir.
            - Pô... Faz tempo que não vens me visitar, heim?! – E a pessoa abria um sorriso extremamente convidativo e simpático.
            - Desculpe-me, mas é que eu fico meio sem jeito de aparecer e... – Respondia encabulado.
            - Que é isso... Podes vir. Sabes que estás sempre convidado. As portas estão abertas. – A pessoa não desmanchava o sorriso.
            Sentia, sobretudo, admiração. Era uma pessoa fantástica. E se emocionava sempre durante esses sonhos.
            Porém, o despertar era sempre frustrante, melancólico... Como uma manhã chuvosa do mês de junho.
            Franco levantava da cama e esta sensação lhe corroia durante o dia inteiro. Por vezes, levava um ou dois dias para amenizar. Durante os primeiros meses, após a despedida, os sonhos eram muito frequentes – quase que diários – mas o passar do tempo foi suprimindo a periodicidade. Três anos depois, a ocorrência era apenas semanal, e hoje quinzenal.
            Apesar de toda a frustração, sentia, no fundo da alma, que gostava dos sonhos. Não sabia o porquê. Talvez fosse uma forma de manter contato com um passado distantemente recente. Sentia que não valia a pena ficar pensando a respeito porque se o fizesse enlouqueceria, e quando não o fazia, enlouquecia.
            Sentia que deveria ir até lá. Que o estavam chamando. Já era hora de um verdadeiro encerramento. Determinou-se. Criou coragem. Tomou seu café...
            E a vontade passou.

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