sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Algo que você não consegue entender" - Mônica e Alfredo pt.1

        Naquela manhã, Alfredo decidira: “De hoje não passa!”. E não passou mesmo. Lá estava ele, no terraço do maior prédio da cidade F, adimirando, o belo pôr-do-sol, a bela vista da bela lagoa e, o melhor, a bela – e jovem – morena de curvas graciosas, olhar inocente, e objeto de cobiça de todos os marmanjos da loja de departamento F, cuja a graça é Mônica.
        O pior é que Mônica é uma “mulher falsa”. Não como personalidade. Não! Longe disso... É um doce de menina. Mas essa é a sua falsidade. Menina. Mônica, apesar de possuir 80cm de busto, 70cm de cintura e 100 (cem) centímetros de quadril, possui dezessete aninhos. Mônica é a estagiária, de nível médio, da empresa, apontada pelo SINE. Mas o que estaria ela fazendo ali com Alfredo, cerca de 20 anos mais velho. Não quero me identificar, mas eu sei o motivo.
     Alfredo, 36 anos, solteiro. Mora nos fundos da casa de seus pais, Dona Aurora e seu Afonso, 66 e 70 anos respectivamente. Nenhum irmão ou irmã, nem amigos ou amigas, exceto eu, que, digamos, sou seu mais próximo colega de trabalho, junto de Mônica.
        Naquela manhã, Alfredo acordou diferente. Estava cheio de energia. Percebi assim que eu atendi o telefone.
         - Fala meu camaradinha! - Resplandeceu Alfredo.
      - Alfredo? - estranhei. Dei o meu número a ele a mais de cinco anos e ele nunca tinha ligado. - C-Como é que estás? - gaguejei.
        - Tranquilo... Vamos tomar um café?
       - Ué... Vamos... - Estava em meu kit net sem nem um farelo de pão. Esquecera de comprar no dia anterior. - Onde?
        - No bar da Clô, pode ser?
        - Claro.
        - Tô saindo de casa!
    - Até... - Fiquei segurando o telefone por alguns segundos, ainda surpreso, até que coloquei-o no gancho. Escovei os dentes e saí. (já estava arrumado)
        O café da Clô fica na esquina do prédio da empresa. É mais perto da minha casa, mas, para a minha surpresa, Alfredo já estava lá. Pensei: “Usou o celular, claro.” depois lembrei que não havia “barulho de rua” durante a ligação, o que não seria possível, uma vez que a rua está movimentada e o café, cheio.
         Entrei.
        - E aí, cara? Como é que está? - Levantou-se e apertou a minha mão.
        - Tudo bem, Alfredo. Que energia é essa?
        - Acordei de bom humor. Aliás, estou decidido a fazer uma coisa! E de hoje não passa!
        - O que seria?
        - Verás daqui a 10 minutos lá na F.
        - Vai se demitir? Eu também faria já que o Farias é um filho duma...
        - Nada haver com aquele broxa do Farias... - Ele falou, me interrompendo e começou a rir.
     A garçonete chegou. Bonita a menina, mas muito mal cuidada. Olhos verdes, cabelos negros, provavelmente longos – devido ao tamanho do coque – seios grandes, mas quadril reto... Perdi o interesse.
       - O que vai ser, rapazes? - Falou e sorriu querendo ser simpática, mas constrangida, já que o Alfredo não parava de rir.
      - Eu quero um café e uma torrada simples. - Olhei pro Alfredo e ele ainda ria. - Ele vai querer um café e...
        - San-Sanduíche... - E voltou a rir. Eu nunca tinha visto ele rir assim. Isso que fazem cinco anos que trabalhamos juntos.
        - Sanduíche de presunto? - Perguntou a menina. Provavelmente insunando um tipo pra que ele pelo menos concordasse assentindo para que a efetuação do pedido na nossa mesa agilizasse um pouco, uma vez que, com o café lotado, já haviam mais umas três pessoas erguendo o braço pedindo atendimento.
         E eu não fazia idéia do que ele tanto ria.
       - Isso... Isso... Isso... - Ele falou entre risadas e gargalhou no final. A moça saiu dizendo que voltava em breve e eu já estava ficando constrangido, porque as pessoas passaram a olhar intrigadas para a nossa mesa. Eu sabia que a história da brochada do Farias era algo legendário, mas... Depois de quatro anos de desventura contada e recontada, ela perde um pouco a graça.
        Um pouco.
       Quase um minuto depois, ele se acalmou e, então, consegui uma resposta sobre o motivo da risada.
       - É bem estúpido – Ele ainda sorria – Mas é que o Broxa – ênfase aqui – do Farias, não Farias – fez aspas com os dedos – nada. - A piada foi boa... É... Mais ou menos...
        Eu ri.


(Continua)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mariana - pt.3

        Augusto não acreditava em seus olhos. Mariana entrou no Palio de Lucas e sumiram. Ela nunca tinha matado aula antes... E o Lucas!? Aquele crápula! Sabia que era apaixonado por Mariana e, simplesmente, enfia a pobre moça em seu carro! Traidor! Bandido!

      Próximo a meia noite, Augusto já estava em casa. Olhou para o seu celular. Ligo ou não ligo? Ligo ou não ligo? Para que? Só para saber que o traidor havia se aventurado deliciosamente nas curvas perigosas e acentuadas do corpo da pobre moça? Desgraçado... “Quer saber de uma coisa?”, pensou, “Que vão os dois para o inferno!”, concluiu.
        Augusto pegou o celular e ligou para Lucas.
      Chamou até cair, da primeira vez. Na segunda nem chamou. Caixa Postal. Jogou o celular longe e foi dormir.
     Na noite seguinte, nenhum dos dois apareceu na faculdade. Não tinha como ligar para Lucas, devido ao “acidente” que o celular sofreu na noite passada. Augusto estava arrasado. Traído pelo melhor amigo... E com a mulher que idolatrava. Sentia-se um nada. Vazio. Começou a rever seus conceitos sobre relacionamentos. Não iria deixar-se envolver tão facilmente de novo. Nunca mais! Nem por homem! Como amigo, claro! E muito menos por mulher nenhuma. Sentia-se melhor já. Assistiu as aulas e foi embora.
      Já na outra noite, chegou mais cedo na faculdade e entrou na biblioteca. Procurava um livro sobre cálculo integral, mas acho Mariana. Sozinha. Lendo sobre arquitetura e urbanismo, novamente. Percebeu o quão tolo foi ao blasfemar quanto a sua semi-Deusa, que, ali estava tão graciosa e gentilmente iluminando e capturando os olhares de desejo dos reles mortais. Seu coração batia acelerado. Tumdumtumdumtumdum! Ah, Mariana...
    Sentou-se novamente em uma mesa próxima e ficou a observá-a. Admirá-la, seria o termo correto. Foi então que Lucas apareceu. Entrou rachando no recinto, passando reto por Augusto, mas sem notá-lo. Augusto disparou um olhar de ódio, mas Lucas não viu. Lucas tinha o aquele semblante de quem não enxergava nada a sua frente. Somente o alvo do que na cabeça lhe atormentava. Voou até Mariana e começou a falar-lhe. Ela ignorava. Lucas tinha aflição nos olhos, Mariana indiferença. Augusto estava surpreso. Não era um “expert” em relacionamentos, mas Lucas era. E lá estava o traíra, no terceiro dia de um “relacionamento”, implorando pela atenção da menina. Augusto sorriu. Lucas estava caído aos pés de Mariana. Lucas insistia e insistia, até que um outro cara chegou por ali. Augusto não o conhecia e, pelo visto, Lucas também não. O cara era louro e baixo. Provavelmente estava no peso certo.
      O tal cara cumprimentou Mariana, que respondeu com um sorriso resplendoroso. Augusto, a cerca de dez metros de distância foi afetado pelo “golpe”. Assim, Augusto entendeu tudo. Lucas estava certo. Mariana é uma devassa. Uma devassa a tal nível que com apenas uma chave de coxas - ou algumas... enciumou-se – conquistou o mulherengo e cafajeste Lucas. Augusto pensou sobre a sua situação com Lucas. Refletiu. Não sentia mais mágoas. Viu a cara de dor na face do bom e velho amigo, que se retirava, ao se ver não apenas repudiado pela mulher que havia roubado o seu coração, mas totalmente ignorado. Fatos inéditos na vida dele.
       Lucas avistou Augusto, que lhe fez um gesto para aproximar-se e sentar ao seu lado.
    • Muda essa cara. - Augusto falou assim que Lucas sentou-se. - Te devo duzentos e cinquenta paus!
    • Nem me fala... - Desânimo total na voz do rapaz.
    • Obrigado. - Augusto sorriu. Lucas levantou o rosto que pendia pela tristeza e olhou bem nos olhos do amigo.
    • De nada... - Baixou a cabeça novamente.
      Depois de um tempo indefinido, Lucas perguntou:
    • Quites?
    • Quites... Vamos tomar uma cerveja?
    • Demorou...


      (FIM)

sábado, 9 de abril de 2011

Mariana - pt.2

      Mariana estava sentada a uma mesa num canto da biblioteca da universidade. Lia sobre arquitetura paisagistica. Os cabelos ruivos e ondulados pendiam a altura do busto, por estar debruçada sobre a mesa. Augusto avistou-a e ficou perdido observando-a. Via seus olhos verdes parecendo duas esmeraldas a exposição em um manequim em uma vitrine, mas não sabia onde focar ao certo. Se para o manequim ou se para as jóias. Percebeu que algumas pessoas repararam que ele olhava perdidamente para ela. Resoleu disfarçar. Entrou, aleatoriamente, em um dos corredores formados por estantes recheadas de livros a sua direita e pegou um qualquer. Esperou um pequeno espaço de tempo e voltou onde estava para observá-la. Para a sua surpresa, Lucas se aproximava da bela jovem. Falou-lhe aguma coisa e, então, sentou-se ao lado dela. O que estaria tramando? Será que estava interessado também? Aquele filho de uma quenga! Mas e se, por outro lado, ele estivesse fazendo a ponte? Tomara. Sentou-se a uma mesa um pouco mais distante e passou a observá-los.
     Em suma, no início, Mariana não estava muito interessada. Porém, com a insistência de Lucas, ela começou a responder. Em seguida deixou o livro de lado e, cinco minutos depois, ela já sorria e nem um minuto depois, ria. E foi assim, Lucas falava, Mariana ria. Mariana falava, Lucas ria. E as demias pessoas ficavam irritadas, porque queriam estudar.
      Augusto ficou de queixo caído. Mariana não tinha muitos amigos e nunca tinha visto ela ridno daquele jeito. Na verdade,e la não ria, naquele momento. Gargalhava. E que bela gargalhada. Era difícil ponderar se ela ficava mais bonita rindo ou séria, além de ser uma risada gostosa de se ouvir. Mesmo com aquela sinfonia em forma de risada, os demais estudantes “pediam” para que ambos se retirassem. Lucas esbravejou alguma coisa. Provavelmente seu xingamento favorito: “Vá se foder, caralho!”, mas Mariana pediu para que ele parasse, e, então, se levantaram e saíram. Augusto os seguiu.



(continua)

domingo, 3 de abril de 2011

Mariana - pt.1

 - Eu estou lhe dizendo, Augusto! Tenho certeza! Escrevo e assino em baixo! - Lucas batia com o indicador direito na mesa de plástico amarela de um bar perto da universidade federal da cidade F.
- Será? - Duvidou o amigo.
- Certeza!
- Não pode ser...
- Leia os meus lábios. - Lucas olhou em volta, debruçou-se sobre a mesa do bar e falou um pouco mais baixo – Mariana não é uma santa. E digo mais, deve ser um demônio.
- Como tu consegues ter tanta certeza?
- Um palpite. - Disse o jovem de cabelos negros e lisos compridos na altura dos ombros.
- Rá! Um palpite... - Debochou o outro rapaz de cabelos curtos, crespos, castanhos e com cavanhaque. Lucas tomou um gole do seu chopp servido em um copo de plástico.
- Argh! Mas isso tem gosto de azeita! - fez cara de nojo. Sacudiu a cabeça. - Escuta o que eu estou te falando, cara. Presta atenção nela.
- E eu não presto? Inclusive, se tu te lembras, eu te chamei aqui pra que tu me ajudes. Chego junto ou não?
- Algum problema com mulher devassa?
- Er... Bem... Mais ou menos... - Lucas reprovou balançando a cabeça. Augusto olhou sério para Lucas. - Tu ficas me fazendo propaganda negativa, porra!
- Eu não! Só estou te dizendo que ela não é santa e como eu sei que tu não é muito chegado em... “Não-santas”...
- Ah, que merda... Mas acho que tu estás enganado! - Lucas tomou outro gole, fez cara de nojo, de novo.
- É o seguinte... - Lucas pegou o copo – Como eu te falei, é apenas um palpite. Deixa eu virar aqui pro santo que eu continuo. - E derramou o chopp no chão.
- Isso custou três paus.
- Os piores três paus que já gastei. Deus! Voltando... Como eu disse, é apenas um palpite... Ela é timida e não fala muito, ok. Mas ela têmum jeitinho de andar... Um brilho no olhar...
- Augusto ficou olhando para Lucas, esperando, enquanto Lucas tateava seus bolsos. Lucas olhou para Augusto, que fitava-o com curiosidade.
- Que foi? - perguntou o cabeludo.
- É só isso?
- Que?... Ah! É, sim.
- Inacreditável... - Augusto meneava a cabeça negativamente.
- Pedisse minha opinião – Lucas pegou um cigarro que tirou de uma carteira que estava no bolso esquerdo do sobretudo – e eu dei. - Acendeu o cigarro usando um zippo decorado com uma bandeira pirata.
- Acho muito improvável.
Lucas tragou.
- Duzentos reais. - Soltou a fumaça.
- Que?
- Aposto duzentos reais contigo que eu estou certo. - Lucas estendeu a mão.
- Agusto olhou para a mão de Lucas. Pensou. Apertou.
- Duzentos e cinquenta. - Propôs o rapas de cabelo castanho.
- Duzentos e cinquenta será. - Concordou o fumante.




(Continua)