- Vovô!
Cheguei! – Alana falou ao chegar depois de mais um dia de trabalho. Ela ouvia
barulhos de marteladas e serras a distância, vindos do segundo andar de sua
casa. Seu avô encasquetara que iria fazer um esconderijo secreto, por
precaução, caso o pior acontecesse durante a guerra. Ela achava graça, pois
todo mundo sabia que estavam vencendo a guerra.
Devido à
idade de setenta anos e a barulheira das ferramentas, ele não havia escutado a neta.
Alana, percebendo que o avô não respondera, foi até o cômodo e gritou “Vovô!”.
Assim, o senhor calvo e com alguns fios grisalhos remanescentes ao redor,
levantou os óculos de proteção para os olhos, enquanto girava a cabeça em
direção a neta. Ele ficou em silêncio por uns instantes e com o olhar perdido.
- O que foi
vovô? – Perguntou intrigada.
- Como tu
estás parecida com a tua mãe e também com a tua avó Hehehe... Levei um
choque...
- Para,
vovô... O senhor sempre diz isso...
- Eu sei,
eu sei... Mesma tonalidade avermelhada dos cabelos, olhos verdes, nariz de
batatinha...
- Tá bom,
vovô. Ok... – Respondeu com ternura, mas com a falta de paciência de quem já
ouviu a história mais de cem vezes. – O que o senhor quer jantar?
“Surpreenda-me”,
os dois falaram ao mesmo tempo e riram.
- Suas tiradas
estão ficando previsíveis, seu Nikolai.
- É a
velhice... Depois eu invento algo novo.
- Certo...
Vou fazer a janta... – Alana se virava quando Seu Nikolai a interrompeu.
- Chegou
uma carta do Ranzo hoje mais cedo.
- Sério?! –
Não percebeu, mas tinha gritado. Saiu correndo para pegar a carta, mesmo sem
saber onde estava.
- Deixei em
cima da tua cama! – Gritou o avô, ao perceber, pelo barulho, que a neta descia
as escadas. Ela parou subitamente, então os barulhos dos paços voltaram a
aumentar de volume e tornaram a baixar, pois Alana, agora, se afastava da peça
onde o avô se encontrava e rumava para o seu quarto.
Ao ler a
carta ficou aliviada, porém, confusa. Sentiu que a carta estava curta de mais e
direta de mais. Não sabia dizer o motivo, mas logo creditou a sua mente saudosa
e preocupada. Atribuiu também a expectativa proporcionada pelo atraso, logo, não
deu mais bola para isso.
Gostou
muito da parte romântica. Ranzo não era um estereótipo de soldado. Era muito
romântico. Alana sentia o peito aquecer e o corpo derreter, e, assim, como todo
bom Nombarathiano, gargalhava na parte em que o namorado contava como matou
dois Ishtarianos usando apenas uma faca. Primeiro fora cercado e estava sem
munição. Em seguida se escondeu atrás de uma árvore de tronco muito expeço.
Agachou-se e esperou. Quando viu o pé de um dos desgraçados, cravou-lhe a faca
e, levantando-se com agilidade, fez um corte vertical no pescoço do infeliz,
utilizando a mesma faca. O segundo, vendo que o companheiro não tinha mais
salvação, disparou uma rajada de 10 tiros em Ranzo. O jovem soldado
Nombarathiano usou o corpo da vítima como escudo e tomou abrigo novamente na árvore.
O Ishtariano pensou que Ranzo iria utilizar a arma do companheiro abatido para
contra-atacar, e isso levaria algum tempo, pois ele teria que tirá-la das mãos mortas do soldado e empunhá-la, então, girou nos calcanhares e correu em direção a uma árvore.
Todavia, Ranzo não investira na submetralhadora do inimigo, apenas tomou
abrigo. Em seguida, espiou o alvo e, vendo que corria, cometendo o grave erro
de dar-lhe as costas, arremessou a faca, que acertou em cheio a nuca, dando fim
a mais um Ishtariano nojento.
Satisfeita
com a façanha, aliviada pela carta e apaixonada pelo romantismo (e heroísmo!)
do namorado, Alana foi para a cozinha preparar o jantar.
Suspirava.
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