quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Nombarath Vs Ishtar" parte 6 de 7


            Alana estava confusa. Passaram-se duas semanas desde a descoberta das supostas cartas falsas. Não sabia o porquê, ou, de repente, estava em negação, mas continuou a enviar cartas para Ranzo, que continuava a respondê-las como sempre. Zhalmyr, periodicamente, das dez horas da manhã as vinte horas da noite, aparecia na televisão, no intervalo de sempre – a cada duas horas -, para fazer seus pronunciamentos oficiais. Não acreditava mais no homem, entretanto tinha uma forte ideia de “bem maior”, ou bem de todos”, ou ainda “bem da nação”, pulsando em seu peito. As palavras de Ranzo, aliadas a esse sentimento, eram o que lhe dava forças para ir a fábrica todos os dias.
            Durante o intervalo do almoço e depois do pronunciamento oficial do meio dia, Alana conversava com Janice, uma colega. Leonôra estava concluindo um trabalho e ainda não havia descido ao refeitório para almoçar. Enquanto ouvia a colega falar saudosa sobre o marido, ocorreu-lhe de perguntar se, recentemente, ele tivesse lhe contado algum feito por carta.
            - Sim! Sim! Ele matou um daqueles ratos asquerosos esganando-o. A munição tinha acabado e... – Alana não prestou atenção no restante da história. Quando achava oportuno, indagava alguma coisa como “Oh”, ou “Impressionante!”.
            Durante o trabalho, resolveu perguntar para o maior número possível de pessoas se seus correspondentes havia lhe narrado façanhas nas últimas duas semanas. Todas as respostas eram positivas, mas todas as histórias eram diferentes. Não compreendia. Por que será que as de Ranzo e Thânos eram iguais? No entanto, o único fator em comum eram que todas as pessoas tinham recebido uma narrativa dramática mais ou menos no mesmo período, entre uma e duas semanas atrás. Outro fato é que todas as cartas eram escritas a máquina e ninguém sabia dizer com certeza porque era feito dessa forma. A resposta mais comum era: “Normas do exército.”.
            O expediente terminou, como tradicionalmente acontece, após o pronunciamento oficial das seis horas da tarde do Querido Soberano. Todas as moças se dirigiam aos vestiários e, em seguida, às suas casas.
            No caminho para casa, Alana e Leonôra seguiam juntas, como sempre.
            - Vou perguntar pro Ranzo... – Falou Alana, do nada, interrompendo a amiga, sem prestar atenção no que ela dizia.
            - Perguntar o que? Tu estavas me escutando pelo menos?
            - Perguntar por que ele e o Thânos contaram a mesma história.
            - Cuidado. Podes não gostar da resposta... – disse em tom de advertência.
            - Não consigo evitar. Sinto que vou enlouquecer se não souber a verdade. Prefiro o gosto amargo dela a viver nessa falsa expectativa...
            - Não sei não...
            - Preferes ficar sem saber o que aconteceu de verdade?
            -... Sim...
            - Ok... Não te conto quando eu descobrir.
            - Obrigada. – Leonôra falou com a voz embargada e sentindo os olhos marejarem.
            - Tchau, Leô. Até amanhã.
            - Tchau, Lana. – Ela falou sem olhar para trás.
            O papo foi calmo, mas qualquer pessoa conseguiria, definitivamente, sentir um peso naquela situação. Um misto de tristeza, decepção e um pouco de agonia.
            Assim que chegou em casa, Alana foi entusiasmadamente recepcionada por seu avô.
            - Laninha! Laninha! Terminei! Venha! Venha ver! – vovô pegou-a pela mão e levou a neta até os segundo andar da casa, mais precisamente, ao escritório do avô.
            - Então? O que acha?
            - Alana olhou sem entender. A peça estava tal qual como sempre esteve.
            - Vovô... Não vejo nada de diferente... O senhor está...
            - Exatamente! Hehehe! – Disse satisfeito Seu Nikolai, quanto caminhava até uma estante cheia de livros. Escolhei um em especial e puxou-o. Um mecanismo foi acionado, fazendo o lado direito da estante mover-se cinco centímetros para frente, como se fosse uma porta, revelando uma pequena área escondida no cômodo.
            - Uau, vô! Isso ficou incrível! – Ficou realmente surpresa, apesar de considerar todo o trabalho do avô um desperdício de tempo e esforço.
            - Ficou perfeito, não é? – Disse orgulhoso.
            - Sim! Ainda mais que eu não vejo uma sujeirinha para eu limpar.
            - Hahaha não exploraria tanto assim a minha netinha favorita.
            - Ok, eu vou fazer o jantar...
            - Hehehe
            Depois do jantar, Alana foi para o seu quarto. Estava determinada a escrever a carta, perguntando o fato misterioso para Ranzo.
            - Lana! Hora do pronunciamento do nosso Querido Soberano! – Chamou o vovô. Quando deu por si, estava ali, assistindo a televisão. Não conseguia entender. Estava querendo escrever a carta com tanto entusiasmo, mas foi assistir ao Soberano, mesmo desacreditada, em segredo, pois não sabia como seria a reação das pessoas se dissesse o que tinha descoberto.
            Só depois que o pronunciamento terminou que Alana conseguiu escrever a carta.
            No outro dia, acordou mais cedo e foi até o centro de correspondências para enviar a carta para Ranzo. Somente depois de feito isso foi ao local de sempre, a esquina onde sempre se encontrava e despedia de Leonôra.
            Decidiu não tocar mais naquele assunto com a amiga. Resolveu que dissimularia e voltaria aos tipos de conversa que sempre tiveram antes de toda essa trama misteriosa acontecer. Não sabia o que sentia sobre a amiga. Se era pena ou se era preocupação. Sabia apenas que ela não queria saber e preferia se manter na ignorância. Começou a pensar sobre as ações e palavras da amiga. As palavras que usava para se direcionar aos ratos imundos de Ishtar, por exemplo, eram as mesmas que o Soberano utilizava. Sentiu uma corrente elétrica saindo da base de sua coluna e atingindo o cérebro. Arregalou os olhos. Ela própria fala da mesma forma. Não só ela, mas todas as pessoas que conhece. Perguntou-se por que odiava tanto os Ishtarianos. O que de fato algum deles fez para ela própria? Não sabia responder.
            Eis que a amiga chega e, então, mesmo um pouco assombrada com o que acabara de revelar a si mesma, conseguiu dissimular e seguiu a ideia de não tocar mais no maldito assunto com a amiga.
            No entanto, não conseguiria mais deixar de pensar nisso tudo.

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