segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um bêbado sujo, fedido e louco

    No ônibus tinha um bêbado. Jaqueta azul-escura, em teoria... Na “prática”, estava toda coberta de manchas de pingos brancos. Onde não estav a manchado, estava desbotado.
    Fedia, o pobre infeliz. Antes fosse a cachaça. Era catinga mesmo.
    Se apresentava para qualquer pessoa:
    “Sou gaudério, desse meu Rio Grande do Sul! Não sou daqui, de Rio Grande. Sou gaudério, desse meu Rio Grande do Sul!”
    As pessoas o olhavam. Algumas rindo (dele) outras com ar de reprovação. Outros, os mais civilizados, continuavam com suas vidas, sem se meter na alheia. E eu, observava. Não com os olhos, mas com os ouvidos (espera um pouco...)
    Quando o ônibus deu partida e começou a se locomover, ele parou de tagarelar.

    No meio da minha viagem, pois eu desceria na metade do caminho, na universidade, ele resolveu conversar com algum passageiro, no fundo do ônibus,
    “Eu conheço, aqui, o CTG Mate Amargo! Venho pra fandangueira, aquii, sempre! Pra Vanera! É MUITO BOM!”. Até o motorista escutava.
    Cantava algumas músicas tradicionalistas que eu nunca ouvi, ou, simplesmente, não entendia o que ele dizia.
    A universidade se aproximava. Uma parada... Nessa. Levantei do banco e puxei a cordinha para dar o sinal. Foi quando eu descobri com quem o bêbado conversava...
    Com ele mesmo.
    “Eu tenho 69 anos e nunca vi uma coisa dessas!...”
    Antes de descer, olhei para os demais passageiros. “Louco” é o que se lia em suas faces.
    “Louco?”, pensei. Nós é que trabalhamos em lugares que odiamos. Nós é que odiamos a vida que levamos e, mesmo assim, preferimos mantê-la do jeito que está. Louco ele?
    O ônibus parou e eu desci. Então, respirei fundo, levando aos meus pulmões o ar carregado de poluição e poeria levantada pela partida do ônibus, e fui para o meu inferno pessoal.

2 comentários:

  1. Aeee! Contos!

    Gosto muito mais desses.

    Achei tri bom esse.

    ResponderExcluir
  2. Ônibus é sempre uma loucura. Na próxima crônica que sairá no Agora tem um lance no ônibus. Teu estilo tá mais seguro, transmites isso no texto. É isso aí!

    ResponderExcluir