Era uma manhã de sábado e não tinha
nada para fazer. Eu tinha perdido o sono fazia mais de meia hora, mas ainda
estava deitado na cama, com preguiça de levantar, ou esperança do sono voltar.
Em todo caso estava ali, de bruços e atravessado, olhando para o tapete no
chão. Eu tenho um certo medo da minha própria cabeça, coisa normal para quem já
esteve a um passo da loucura por duas vezes, e provavelmente você não entendeu
o que eu quis dizer com isso. Contudo, isso não vem ao caso.
Minha mente viajava a mil por hora e
eu posso afirmar com toda certeza que não havia bebido e nem me drogado de
qualquer outra forma, é pura e simplesmente a minha cabeça entediada e um tanto
ansiosa, sabe-se lá por que, que funcionava, através de uma espécie de diálogo
comigo mesmo.
Pensava em sexo, porque tinha acordado
de pau duro, mas não tem nada aqui haver com masturbação, fique tranquilo. Logo
em seguida vieram algumas ideias muito ruins sobre o que escrever. Algumas
putarias, mas não sou muito fã de escrever putarias. Aconselho que assistam
filmes, é muito melhor. Com isso, perguntei-me: pra que escrever putaria? Que
vão comer uma mulher, oras! Se não conseguem conquistar uma, que paguem. Então me
lembrei de músicas funk... Na verdade, fui forçado, pois um vizinho havia
começado a escutar isso a todo volume. Dei-me ao luxo de prestar a atenção em
uma letra e cheguei à conclusão de que eu assistia a um filme pornô pelo rádio.
Era um festival de passar a piça na cara dela, de foda de quatro, de foda
papai-mamãe, de gozadas, de mamadas... Tudo isso com crianças menores de
dezesseis anos –as novinhas. Fico pensando que se censura tanta besteira hoje
em dia, como bixas se beijando na rua, desenhos animados adultos, que são
passados para as crianças, só porque são desenhos animados, até propagandas de
cerveja e perfume (procure na internet por uma protagonizada pela Keira
Knightley), mas permitem filmes pornôs no rádio e a qualquer hora. As mulheres
que participavam do filme até gemiam. Disk Sex, total. Isso me levou às
feministas, que lutaram muito e conseguiram a incrível façanha (sem ironias aqui)
de desassociar – agora essa coisa toda está começando a voltar - a ideia de
mulher-objeto nas propagandas de cerveja, mas ficam rebolando o rabo quando
toca uma merda dessas. O que me levou a outra ideia: Porque não conseguem
derrubar o funk? Simples, elas gostam de tomar umas boas pirocadas e que cantem
sobre as façanhas, afinal, é a liberdade sexual. Depois de meia dúzia de
pirocadas e um bom e generoso pé no meio do rabo, elas saem postando na
internet que nenhum homem presta, mas se atiram pro primeiro sertanejo que passa
com um Camaro, ou Dodge Ram, ou um funkeiro com uma barra forte e uma caixa de
som de quarenta reais conectada a um mp3 player do camelô.
Incongruência e extremos.
Justifiquei-me que não sou machista,
afinal, machista é quem curte um macho, e isso, definitivamente, não é pra mim.
Por isso que, na maioria das vezes, minhas heroínas são mulheres, algumas
poderosas, outras femme fatale, outras inteligentes, outras lindas de doer, e
até mesmo meigas, mas nunca burras... Nem feias... Se eu disser que é porque
não existe mulher feia, serei hipócrita, já vi cada coisa nesse mundo... Mas enfim, imaginar mulher bonita é crime? Apenas
uma imposição inconsciente da sociedade e pelos artistas. Pra quem acha que
isso é coisa da vida de hoje, leia Iracema, Amar, verbo intransitivo (um ótimo
roteiro de filme pornô B)... E quer melhor descrição de beleza de um
substantivo feminino do que a Canção do Exílio?
De qualquer forma, seguirei
escrevendo sobre mulheres lindas, inteligentes e poderosas, e você, que acha
que eu sou machista, lembre com bastante ódio que elas são tudo o que você
sempre quis ser.
Revirei-me para outro lado, vendo
que tudo isso que eu estava pensando não fazia sentido algum, ainda mais porque
eu imaginava tudo com uma forma de diálogo, entende?
Depois pensei em mídia, o papel que
essa porcaria tem em cagar em cima de qualquer coisa e vomitar asneiras, do
tipo “dar direito aos homossexuais fará com que todo mundo vire homossexual”.
Basta estudar, não muito, só um pouquinho, de história e lembrarmos que negros
não eram gente até a abolição da escravatura, ou melhor, até a Inglaterra
precisar de mercado pra vender suas quinquilharias industrializadas. Enfim, não
me lembro de ninguém ter virado preto, já que os bros estavam em “alta”.
Ainda sobre a mídia: o enaltecimento
de tudo que é chinelagem. Já é a terceira novela em que a personagem principal
é favelada. Minha gente... Entendam de uma vez: ser favelado não é legal, é uma
consequência de má administração da máquina pública e um descaso com os menos
favorecidos. Ninguém que está na favela gostaria de ser de lá, sabendo como é
morar em um bairro tranquilo e de riqueza. Só a classe média boçal brasileira
acha interessante e intrigante e fodasticamente maravilhosa toda e qualquer
forma de expressão advindas daqueles lugares miseráveis e com falta de
estrutura, onde as pessoas são mantidas lá dessa forma por uma simples questão
de curral eleitoral.
Falei que não gosto muito de
escrever sobre putaria, mas, aqui vai a maior de todas: um papo cabeça, com a
minha cabeça, sobre política. Mas não aquele esperneio por maiores salários ou
alunos violentos (fazendo uma retomada a questão da educação falado a dois
parágrafos atrás). Até gostaria de ter um, pra poder enfiar uma ou duas
porradas no meio da cara e alegar legítima defesa.
Lembrei-me do dilema brasileiro
entre uma pseudo-esquerda e uma direita radical e conservadora (privatizadores
aliados a católicos e evangélicos, todos com um patrimônio que daria inveja a
muitos países). Lembrei-me dos seus respectivos militantes, que, se deixar,
enfiam as bandeiras uns nas uretras dos outros em meio a tanta pancadaria que o
encontro entre duas militâncias rivais poderia proporcionar - outra coisa que
adoraria ver - e, depois, faria questão de cuspir sobre cada um dos que
estivessem deitados e arrebentados no chão, afinal, estão ali, estupidamente espancados
em prol de uma causa ou o que for, enquanto que nos bastidores da política, é
pastor chupando pau de padre, padre dando cu pra comunista, comunista enfiando
o dedo no cu de privatizador, enquanto esse enxuga a porra da boca com a grana
da última propina de uma multinacional que financiou a putaria toda.
Então, enchi o saco e levantei da
cama.