Foi um bocado complicado prender a July de novo. Ela estava
mais forte, o que fazia sentido, pois tinha feito um banquete. Não sobrou muito
da loirinha. Não consigo sentir remorso, entende? A imagem dela chorando no
chão, segurando o pulso que eu quebrei com a barra de ferro, espoca na minha
cabeça pelo menos uma vez a cada duas horas. Entretanto, é tudo muito estranho,
é como se fosse a imaginação trabalhando em cima de uma história que me foi
narrada. É como se não tivesse sido eu... É como se tivesse acontecido em um
filme. Não sinto culpa, não sinto remorso e nem excitação. Um vazio que, ao
contrário dos vazios - que dilaceram o peito - este não me causa impacto algum.
É como se algo dentro de mim tivesse deixado de existir. Sei que eu normalmente
sentiria algo, que eu teria vontade de chorar, que eu teria vontade de vomitar,
ao ver aquele monte de sangue e pedaços da massa encefálica no assoalho do
corredor, na barra de ferro e na minha camiseta; É como se eu tivesse feito algo
corriqueiro, como pegar o controle remoto pra ligar a TV, ou como se eu
estivesse cansado e decidisse sentar.
Ainda não sei por que a dei de almoço para a Juliana. Acho
que eu queria ter certeza de que a loirinha estivesse morta... Ou melhor, de que ela
iria morrer. Penso que no fundo no fundo, eu não queria tirar a vida dela,
então, fiz isso pra amenizar a culpa dentro de mim.
O que funcionou, eu acho.
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