Dois amigos caminhavam em direção a
uma parada de ônibus próxima ao cemitério da cidade. Conversavam trivialidades
e faziam piadas. A noite era ventosa e fria, porém, tranquila. Um sujeito que caminhava no sentido contrário, vestindo touca verde, uma grossa jaqueta de nylon azul e vermelha e manchada por coisas como graxa, cimento e sopa, e calças jeans rasgadas e desbotadas, os abordou:
- Aí, mano, desculpa te incomodar...
É que eu sou morador de rua, trabalho fazendo uns bicos aí, carregando cascote
e tal... Não roubo, não sou ladrão, tá entendendo? E queria saber se podias me
arrumar uma moeda aí, qualquer coisa, só para eu poder comer?
- Claro, cara. - um dos amigos abriu a carteira
e retirou uma nota de dois reais - Espero que isso ajude.
- Po, muito obrigado! E desculpa
qualquer coisa. Uma boa noite pra vocês. - e seguiu seu rumo.
Alguns instantes de silêncio se
fizeram, enquanto os três tomavam seus rumos.
- Meu, porque desse dinheiro
praquele cara?
- Por que não? Não ouvisse o homem?
Ele disse que estava com fome.
- Todos dizem...
- E outra, ele podia ser a
reencarnação de Jesus. Se eu for bom, ele me leva para o céu.
- Não viaja... - Um novo silêncio entre os dois se fez. Uma moto passou zunindo quase atropelando uma velha que atravessava a rua. Os cães latiam para os gatos transando em cima dos telhados e o cheiro de janta sendo requentada saía das casas. - Dava para a Igreja,
então. - Quebrou finalmente o silêncio.
O sujeito olhou pensativo para o
céu. Reparou que a lua estava cheia, amarelada e parecia maior do que de costume. O vento
soprava forte, fazendo o capuz da sua jaqueta ondular. As árvores curvavam-se a
essa força majestosa da natureza. Um redemoinho de latas, folhas de papel,
sacos de lixo e poeira se formava na esquina.
- Melhor não.