quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Uma esmola para Jesus


            Dois amigos caminhavam em direção a uma parada de ônibus próxima ao cemitério da cidade. Conversavam trivialidades e faziam piadas. A noite era ventosa e fria, porém, tranquila. Um sujeito que caminhava no sentido contrário, vestindo touca verde, uma grossa jaqueta de nylon azul e vermelha e manchada por coisas como graxa, cimento e sopa, e calças jeans rasgadas e desbotadas, os abordou:
            - Aí, mano, desculpa te incomodar... É que eu sou morador de rua, trabalho fazendo uns bicos aí, carregando cascote e tal... Não roubo, não sou ladrão, tá entendendo? E queria saber se podias me arrumar uma moeda aí, qualquer coisa, só para eu poder comer?
            - Claro, cara. - um dos amigos abriu a carteira e retirou uma nota de dois reais - Espero que isso ajude.
            - Po, muito obrigado! E desculpa qualquer coisa. Uma boa noite pra vocês. - e seguiu seu rumo.
            Alguns instantes de silêncio se fizeram, enquanto os três tomavam seus rumos.
            - Meu, porque desse dinheiro praquele cara?
            - Por que não? Não ouvisse o homem? Ele disse que estava com fome.
            - Todos dizem...
            - E outra, ele podia ser a reencarnação de Jesus. Se eu for bom, ele me leva para o céu.
            - Não viaja... - Um novo silêncio entre os dois se fez. Uma moto passou zunindo quase atropelando uma velha que atravessava a rua. Os cães latiam para os gatos transando em cima dos telhados e o cheiro de janta sendo requentada saía das casas. - Dava para a Igreja, então. - Quebrou finalmente o silêncio.
            O sujeito olhou pensativo para o céu. Reparou que a lua estava cheia, amarelada e parecia maior do que de costume. O vento soprava forte, fazendo o capuz da sua jaqueta ondular. As árvores curvavam-se a essa força majestosa da natureza. Um redemoinho de latas, folhas de papel, sacos de lixo e poeira se formava na esquina.
            - Melhor não.

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