A
motosserra rugia no galpão de madeira empoeirado. O cheiro de diesel queimado e
expelido do motor exalava trazendo não apenas uma marcha macabra -
róóóón-tan-tan-tan-tan-tan - mas o perfume do terror. Carla tapou a boca com as
duas mãos. Estava escondida atrás de um tonel de latão enferrujado. A
iluminação do recinto era o luar que invadia por entre as venezianas e os
espaços presentes entre as tábuas, que davam forma as paredes do galpão. A
poeira que voava devido ao vento era iluminada pelo luar e girava e caía e
subia, dançando com a sinfonia da motosserra. Ritmo compassado, marcado.
"Róóóón-tan-tan-tan-tan-tan". O lunático com a serra caminhava
lentamente a passos curtos e pesados, deixando grandes pegadas no chão
empoeirado e, assim, trazendo novas partículas dançarinas ao espetáculo
flutuante.
Carla
ouviu o demente se distanciar em direção aos fundos do galpão. Era a sua deixa.
Rezava. Pedia forças. Comandava as pernas, porém, elas teimavam em apenas
tremer e manterem-se atarraxadas e soldadas ao chão. Respirou fundo, mas, com
todo o cuidado do mundo, para que o desgraçado não fosse capaz de ouvi-la.
Enfim,
quando os sons dos passos cessaram, deixando apenas o rugido da motosserra, a
mulher conseguiu reunir forças e se levantou. Pôde ouvir o maníaco girar sobre
o próprio eixo, mas já não importava mais. Não era mais o momento de hesitar.
Correu! Correu como nunca correra antes em sua curta vida. Sentia medo como
nunca antes sentira na sua curta vida. Vinte anos, não encontrara o príncipe
encantado ainda, no entanto, sabia muito bem que os sapos estavam por toda a
parte; Lutava pela vida como nunca antes o fizera. E aqueles malditos quatro
metros até a porta do galpão pareciam quatro quilômetros. Os dois segundos de
toda essa ação, pareciam duas horas.
Foi
então que Carla sentiu o metal aquecido pelo motor sendo enterrado em suas
costas, acompanhado de um baque muito forte que a jogou no chão. Carla berrava
de dor e desespero. O filho da puta havia arremessado aquela maldita motosserra
em suas costas, que sentia a omoplata sendo destroçada junto com os músculos,
tendões e cartilagens. A serra não parava de girar e cortava como faca na
manteiga. O sangue escorria quente, a mulher urrava e o assassino caminhava
lentamente em sua direção.
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