sábado, 19 de março de 2011

"Algo que você não consegue entender" - Simone pt.3

        - Paulo! Quem está aí? - Novamente a moça pergunta com um certo tom de sono. Uma eternidade se passou desde que Simone declarou a frase que é capaz de fazer até mesmo o mais corajoso homem borrar nas calças.
- Nã... Ahm... É uma amiga minha, meu bem. - Paulo se levantou do sofá e fez sinal para Simone - Ela está com um probleminha e eu vou conversar com ela, ok?
- Que amiga?
- É a Simone.
- Simone?
- É. Nós vamos lá embaixo conversar melhor, ok?
- Ok... Não demora. E trás café, estamos sem.
- Pode deixar. Te amo! - Simone entendeu tudo. Não só pagou o maior mico de sua vida, bebendo ao ponto de não lembra o que tinha feito no outro dia, mas ficou grávida do idiota e o pior, um idiota comprometido, ou seja, ela, além de tudo, foi só uma puladinha de cerca. - Vamos? - Perguntou Paulo. Simone apenas assentiu e saíram.
        Estavam na calçada, a umas duas casas do edifício. Simone, para começar o papo, perguntou.
- Namorada? - Paulo olhou para ela e baixou a cabeça.
- Noiva.
- Interessante... - Ironizou.
- Como que você deixou isso acontecer, Simone?
- O que?!
- Por que você não tomou a merda da pílula?
- Como eu ia imaginar que tinhamos transado sem camisinha?!
- Simples, foi você quem pediu!
- O que!? Impossível!
- Deixa eu refrescar essa sua memória de bêbada, então? Estávamos no maior amasso, já no meu apartamento, quando, eu, pronto para ação, paro e vou pegar a camisinha na minha cômoda, daí, você me olha com a cara mais gostosa de safada que já vi na vida e me diz, diz não, MIA "Bala com papel não tem graça..."! - Simone arregalou os olhos. Está certo que ela não lembrava o que tinha acontecido, mas... Hey!
- E você não poderia pelo menos ter gozado fora?! E outra! Seu doente! Você não me conhece! Como ia saber que eu não tinha doença nenhuma!? Eu estava bêbada, seu imbecil!
- Ah, ok, e eu estava completamente sóbrio! Eu nem vomitei assim que cheguei em casa. - Era uma discussão perdida. Não adiantava. Simone não fazia idéia do que tinha se passado na noite, ele poderia falar qualquer coisa. De repente já até jogou verde quando disse que ela havia dito que... bala com papel não tem graça... Deus do céu! Simone sentiu os olhos marejarem e baixou a cabeça. - E então, espertinha? Retruca essa agora! - Simone começou a chorar. - Isso! Chora! De repente todos os SEUS problemas vão embora.
- Meus?
- Isso aí - Paulo apontou para a barriga de Simone. - é problema seu. VOCÊ foi relaxada. VOCÊ fez isso.
- Claro, seu animal! Eu transei comigo mesma e fiquei grávida! Gerei uma criança por meiose!
- Meia-o-quê?!
Simone suspirou.
- E o pior de tudo, fiz junto com uma ameba!
- O negócio é o seguinte, você é enfermeira certo? Deve conhecer algum médico que possa tira ISSO daí.
- Vocês está louco, seu retardado! É uma criança que eu carrego aqui! Não é ISSO! É o seu filho, seu merda!
- Não! É o SEU filho! Ou você acha que a mãe do meu filho vai ser uma qualquer que dá, bêbada, pro primeiro que aparece pela frente? - Simone fervia de raiva. - E o pior, não lembra PORRA nenhuma do que aconteceu! - Simone enfiou a mão na cara de Paulo. Literamente enfiou. E não foi um tapa, estilo novela. Foi um murro. Bem no olho direito. Algumas pessoas que passavam por ali viram e estacaram. Paulo parecia não ter acreditado no que havia acontecido.
- Sua vagabunda! - Paulo revidou a gentileza, da mesma maneira, fazendo Simone cair no chão. Dois rapazes que viram tudo correram na direção dos dois. Paulo se curvou e apontou o indicador direito para o rosto de Simone, que havia levado as mãos ao rosto, e disparou todos os xingamentos que conhecia.
- TÁ MALUCO, SEU IMBECÍL! - Um dos rapazes empurrou Paulo para trás, o outro foi ver como Simone estava.
- Cai fora que o assunto não é contigo! - Praguejou Paulo.
- É uma mulher, seu imbecil! - Gritou o que acudia Simone. - Você está bem, moça? - Perguntou o adolescente. Simone não conseguia responder, além de estar atordoada, chorava, e muito.
- Cala essa boca seu pirralho, se não enfio a mão na tua cara também! - Gritou Paulo. O rapaz se levantou.
- Cai dentro então, mané!
- Roberto, cala essa boca e ajuda a moça - O outro ordenou. - E tu, seu merda, sabia que ele é menor? Não basta bater numa mulher ainda quer bater num menor?
- E você é maior? - Perguntou Paulo.
- Sou! Sou Advo... - Paulo não deixou o rapaz terminar, enfiou um soco na cara do homem. Mais pessoas vieram ver o que acontecia. O ferido se embolou com Paulo. Rolavam no chão e trocavam socos. Um tumulto se formou. Roberto se levantou e foi acudir o amigo.
- Chamem a polícia! - E deu um ponta pé nas costelas de Paulo, que desferia socos, sentado em cima do rapaz, em sua face. Paulo caiu para o lado esquerdo com o impacto. Roberto continuou chutando. Um circulo se formou na volta dos quatro. A maioria das pessoas apenas assitia. Outros filmavam, mas ninguém tentou apartar a briga.
Cinco minutos depois, Paulo estava estirado no chão, totalmente machucado, provavelmente com alguma costela quebrada - o nariz era uma certeza. Roberto acudia o amigo, que atendia pelo nome de Rafael, e Simone. Roberto tentava falar com ela, mas ela apenas chorava, num misto de vergonha, desgosto, raiva e tristeza.
- Hey, moça, não se preocupe que eu sou advogado. Vamos socar direitinho no rabo desse filho duma puta. Rafael falou ao se sentar do lado de Simone. - Está me ouvindo? Não se preocupe, vai dar tudo certo. A polícia está chegando. - Simone apenas assentiu, mas chorava muito. - Hey, fique calma... - Rafael abraçou-a. - Vai ficar tudo bem. Olhou pra multidão que passou a se dispersar. Não acreditava que, depois que Paulo foi ao chão, eles haviam aplaudido. Como se aquilo fosse um espetáculo. Algo combinado. Só faltava jogarem trocados num chapéu virado no chão. - Vocês não tem mais o que fazer não?! - Gritou Rafael.
Mais cinco minutos e a polícia chegou. Rafael e Roberto contavam tudo o que tinham visto, mas não mensionaram que Simone havia dado o soco primeiro. Paulo dizia que havia sido agredido por Rafael e disse que Simone havia lhe dado uma bofetada primeiro. Os dois oficiais olharam para Paulo e depois para Simone e seguraram um riso. Simone contou que estava grávida de Paulo e que ele queria que ela abortasse, e ela queria ter a criança, então, ele lhe deu um soco no rosto - Rafael a instruiu para dizer isso. Os policiais levaram Paulo para a delegacia e liberaram Simone e os dois rapazes.
Hoje:
*Paulo cumpre a pena por agressão a mulher e tentativa de homicidio de menor e incapaz.
*Andréia, noiva de Paulo, vai visitá-lo na prisão toda semana.
*Sofia tem Sete anos e é o orgulho da mamãe Simone, do papai Rafael e do irmão mais velho Roberto.

FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário