O dia
seguinte era domingo. Alana acordou com o barulho da televisão. Elas acendiam
automaticamente nos horários programados para as transmissões oficiais, na
verdade, era praticamente a única coisa que a televisão transmitia. Resmungou
qualquer coisa, calçou um par de chinelos próximos à cama e desceu as escadas e
foi até a sala. Seu avô estava assistindo. Zhalmyr fazia um novo
pronunciamento, atualizando, como de costume, o povo em relação à guerra.
Trajava a mesma vestimenta de sempre. Alana lembrou-se de Leonora fazendo graça
das roupas do Soberano, então sorriu.
Zhalmyr
falaca que as tropas de Nombarath tinham capturado um importante oficial inimigo,
que seria torturado, e, assim, seriam arrancadas da boca do rato, informações
preciosas que poderiam vir a ser cruciais, reduzindo o tempo de ausência de
seus lares, os honoráveis e destemidos soldados Nombarathianos. Em seguida, o
Soberano avisou que um documentário sobre as perversidades de Ishtar seria
transmitido. Alana normalmente ficaria interessada, mas, naquele momento, estava
mais interessada em voltar ao seu quarto e escrever uma resposta a Ranzo. Iria
contar-lhe sobre as boas novas – a captura do oficial inimigo – e que em breve
estariam juntos novamente. Lembrou que Zhalmyr informou o nome do pelotão que
capturou o general, dessa forma, perguntou se ele fazia parte do grupo.
Escreveu mais algumas declarações de amor e, então, dirigiu-se ao centro de
correspondência da cidade.
A fila
estava enorme. “todas as mulheres da cidade tiveram a mesma ideia que eu...”,
pensou. Lá pelo meio da fila, avistou Leonora, que abanava em sua direção. Saiu
do seu lugar, último da fila, e dirigiu-se até a amiga, sob os protestos semi silenciosos
de muitas pessoas, mas não se importou com isso.
- Leô!
Chegou ontem a carta do Eanzo! Ai! Que alívio!!! – novamente, não se deu conta
que estava exaltada.
- Eu te
falei, mulher! Bom, mas e aí? Conta tudo!
- Ai, amiga... linda a carta como sempre,
né!? Mas ele contou também como ele matou dois daqueles ratos nojentos!!! Meu
herói!
- Ah, é?
Meu Thânos também fez uma proeza! Foi épico! Estava cercado, ok? – Leonora gesticulava
muito com as mãos, esboçando círculos e pessoas – eram dois também. Dois ratos.
Apenas uma faca. Zás! Pegou o primeiro e depois jogou a faca no outro. Lindo,
não? – Alana ficou surpresa. Estranhou. Pensou...
- Como é
que é? Repete, por favor?
- Incrível,
né? Claro, repito sim. Eu também não acreditei na primeira vez que li... –
Então, Leonora repetiu com calma e detalhadamente a história.
Era exatamente a mesma história
que Ranzo descrevera em sua carta!
- Não pode ser, Leô... – Alana falou
atônita.
- Ué, e porque não? O Thânos
também é um bom soldado e...
- Não é isso! Vem... Vem comigo!
– Alana pegou a amiga pelo braço e puxou-a para fora da fila.
- Hey, mas e a fila?! Tenho que
enviar esta carta e... – Alana parou e olhou com aflição para a amiga.
Preocupada, Leonora perguntou o que se passava.
- O Ranzo contou-me exatamente a
mesma história na carta dele!
- O que?!
- Tem
alguma coisa errada, Leô. MUITO ERRADA! Venha, vou te mostrar, - E saíram as
pressas em direção a casa de Alana.