- Opa! Como vai Dona Lúcia? Tudo Bem? – Perguntei ao chegar atrasado, para a reunião do pessoal. Lá estavam os mesmos de sempre, o cara que parecia o Che Guevara, só que com formigueiro no rabo e a veia com seios brochantemente grandes e caídos.
- Tudo bem, Cara, e tu? Mais calmo? – perguntou ela com um sorriso simpático... Como é gata!
- Melhorando, digamos.
- Ok... Alguém quer começar primeiro? Ou eu preciso chamar alguém? – perguntou Lúcia.
- Eu! Eu! Eu! – Levantei a mão, falsificando toda uma empolgação, porque sei que ela não quer que eu vá primeiro. Não depois da ultima vez.
- Alguém mais além do Cara aqui?
Nada.
- Qualquer um? – Insistiu.
Nada. Digamos que eu fiz um... Acordo... Bem educado e gentil com eles e eles me deixariam começar primeiro.
- Certo – Disse ela com um desanimo camuflado por simpatia – comece.
Antes de começar dei uma olhada nas caras daqueles abobados e vi que quando nossas visões se cruzavam, eles desviavam o olhar. Ótimo.
- Muito bem, vou começar de onde eu parei semana passada. Onde eu estava? Ah, sim...
- Oi, Cara, tudo bom? – Perguntou o professor José. Meu sangue gelou, fiquei sem voz e as pernas tremiam. Como? Como diabos? Eu estraçalhei a cabeça dele a cadeiradas!! Era pra ter sido decretado luto e minha cara estar em todos os jornais nesse exato momento! E o pior! Não era pra ele estar falando comigo! No mínimo ele tinha que fugir de forma histérica, não cumprimentar sendo simpático e educado. Meu Deus! Será que eu sonhei com aquilo?
- O-oi, p-professor. Tu-tudo bom? – Gaguejei.
- Tudo bem, com um pouco de dor de cabeça, mas passa.
AI CARALHO!!!
- Não tinhas que estar em aula agora não? São quase nove. – Ele disse olhando o relógio.
- É... Tive um imprevisto em casa e me atrasei... Vou indo nessa! Tchau! – Não ouvi se ele me deu tchau, nem quis saber, simplesmente corri pra dentro da sala.
Cheguei na porta da sala e bati. Pedi licença para a professora Cláudia, de biologia e entrei. No fundo da sala, como de costume, a turma de filha da puta que eu tanto amo. São seis desgraçados que – no momento – são inofensivos.
A aula terminou e a próxima professora entrou. A Rafaela, de literatura. Oh Shit! Ela me viu todo ensangüentado! É agora.
- Bom dia – Disse ela com seu jeito adoravelmente arrogante. Uma maravilha de pessoa.
Ela deu a maldita aula dela sobre o romantismo e foi embora. Porém, ela vez ou outra me olhava, mas eu sentia que tinha algo de estranho naquele olhar. Tem alguma coisa muito estranha acontecendo aqui e sinto que preciso ficar alerta.
Coincidência ou não, o Thiago não foi à aula naquele dia e o estranho é que as pessoas não pareciam sequer sentir a falta dele.
Depois do intervalo – o recreio – teve a aula dele... Daquele... DAQUELE!
- Cara... por favor...
- CALA A BOCA VADIA! TU ACHAS QUE É FÁCIL? – interrompi a Lúcia.
- Por favor, se acalma!
- EU ESTOU TENTANDO!
- Respira fundo, não me faça chamar a segurança, por favor!
- Desculpe-me, é que é muito difícil pra mim lembrar...
- Ok, ok! Vamos parar por aqui?
- Não, por favor, eu preciso, vai ser de grande ajuda.
- Certo, mas eu vou chamar os seguranças por precaução, ok?
- Se eles conseguirem me deter, vá em frente. – Começou a se ouvir alguns choros e rezas na sala.
30 segundos depois estavam lá os seguranças.
- Como demoram... Eu poderia acabar com a raça de muita gente aqui nesse tempo.
- A senhora precisa que o tiremos daqui agora? – Disse um armário falante vestido de preto para a Dona Lúcia, enquanto o outro se aproximava de mim.
- É só por precaução, ele ainda é instável.
- Ok. – Respondeu o armário.
- Humberto.
- Como, Cara? – perguntou Lúcia.
- O nome do filho duma égua é Humberto, professor de física.
- Parabéns, conseguisse te controlar. – Disse ela abrindo um sorriso lindo e sincero.
- Eu disse que estou melhorando.
- Consegue continuar?
- Acho que sim, mas chamem reforços por precaução. – Falei olhando para o armário de preto que estava perto de mim.
- Como preferir. – E não é que ela chamou mesmo?
- Bueeeno! Vamos começar mais uma aulinha barbadinha de física, meus queridos alunos? – disse aquele duende macabro. Menos de um metro e sessenta de altura, porém a maldade residente naquele coração é imensurável, é o diabo em pessoa... – Ah, sim, estou com as provas corrigidas, e adivinhem só? A maioria já pode se considerar com o pé na cova. Vou chamá-los um por um e venham pegar sua prova. Dona Gabriela!
- Oi. – respondeu a loira baxinha peituda e gostosa.
- Vem pegar a tua prova.
Ela foi até lá e quando ela tocou na prova...
- ZERO! Conseguisse fazer a pior prova das quatro turmas de terceiro ano! HAHAHAHAHAHA
E a pobre alma retorna chorando.
- Manoel! – bradou ele – queres a prova ou posso só dizer a nota?
- Quero a prova.
- Ta, vem pegar, mas tirasse zero.
- Lúcio! – nenhuma resposta – Lúcio? – nada. – Nem preciso dizer que esse já está morto. hahahahaha
Não sabia como me sentir, afinal, tinha gente que realmente era pra estar morto e não estava, mas o maldito me olhou com a mesma cara da Rafaela... Meu Deus o que está acontecendo aqui?!
- Cara?
- Espera aí, ele te chamou de cara? – perguntou a Lúcia.
- Não, é que eu não quero que esses otários saibam o meu nome.
- Ah, como quiser, continua.
- Presente, professor.
- Não é a chamada animal, é a prova, e tu tiraste zero também! Menos um por causa dessa idiotice de “presente professor”.
- Preciso contar aos amigos que foi aí que todo o inferno que até então parecia irreal, começou a tomar forma. Esse foi o dia que minha vida mudou pra sempre.
Eu não tinha muitos amigos ali, mas tinham três pessoas que eu gostava bastante também, eram o Thiago, o Roberto e o Leonardo. Roberto e Thiago não foram naquele dia, e tiveram suas provas devidamente ridicularizadas também. Não entendendo como eu teria tirado zero já que eu tinha estudado muito praquela prova, fui falar com o Leonardo. Comparamos as provas e nossas respostas eram bem parecidas e as notas eram as mesmas. Zero. Leonardo se dava com um cara, o Diego. Eu não curtia muito o magrão porque ele era amigo dos 6 filhos da puta, mas... Era só uma antipatia por ser amigo de inimigos meus, não faria nenhum mal a ele, mas também nenhum bem. Então, Leonardo mostrou a prova para o Diego esse, que tirou 5 de 5, e... NOSSAS RESPOSTAS BATIAM. Cara, aquilo começou a fazer uma raiva gigantesca crescer.
Infelizmente nós descobrimos isso tarde de mais, e o prazo de dois dias para se reclamar de correções já havia expirado. E o Thiago não aparecia e ninguém atendia na casa dele nem celular.
No terceiro dia depois da entrega das provas, tivemos aula de novo com o filho do capeta. Ele chegou em aula pedindo para destacarmos uma folha do caderno, ditou um exercício e queria ver antes da segunda aula que ele ia corrigir e devolver no dia. Disse que ia nos dar um presente pro final de semana.
Pois bem, fiz e entreguei. Dez minutos depois ele me chamou e me entregou. 0,3 de 1.
- Melhor que zero... – falei e ele só riu com aquele sorriso... Maldito sorriso...
- Tudo bem, cara? – Lúcia perguntou e um armário já segurava o meu braço.
- Tudo, tudo. – Ela fez um sinal e o armário soltou meu braço.
Me sentei e fiquei olhando o exercício. Virei a página. Uma mensagem.
“A tua imaginação não está brincando contigo.”
Arregalei os olhos e olhei pro demônio. E ele simplesmente... simplesmente... SORRIU!
Não lembro do que aconteceu depois, acordei no meu aposento com um galo na cabeça e o punho calejado.
Dedicado ao grande amigo e Co-autor Thiago Ávila Pouzada
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