No outro dia,
por volta das sete da manhã, cerca de duas horas depois de pegar no sono, o sol
da manhã invadia o pequeno quarto fazendo Álvaro acordar. Como sempre, nenhuma
das duas meninas estava ali, o que entristecia o rapaz. Lembrou que Geraldo,
seu melhor amigo estava, provavelmente, dormindo na soleira da porta de
entrada. Atravessou o apartamento revirado. Sorriu com as lembranças da orgia
recente e abriu a porta. Geraldo assustou-se e acordou de supetão. Estava
dormindo sentado e escorado na porta e, quando Álvaro abriu-a, quase caiu de
costas. Álvaro deu uma risada.
- Vem, companheiro, vamos para
dentro.
- Demorou, porra.
- Obrigado por liberar o AP...
- Me deves três, já.
Nesse meio tempo, Jéssica sai de um
apartamento vizinho e passa, encarando Álvaro, com uma expressão de espanto no
rosto. Assim que o rapaz olhou, ela desviou o olhar imediatamente, e apertou o
passo em direção ao elevador.
- Bom dia, Jéssica – cumprimentou a
bela morena que trajava um vestido curto (até os joelhos) branco estampado com
grandes flores púrpuras e generosamente decotado.
A mulher não respondeu. Inclusive
desistiu de esperar o elevador e rumou para as escadas, que assim que começou a
descê-las, fazia com que o “toc-toc” dos sapatos de salto diminuíssem
gradativamente o volume.
- Sempre te esnoba depois da noitada...
– Geraldo falou.
- É... – concordou tristonho.
Em seguida, Paula saiu de outro
apartamento, vestida com seu uniforme colegial. Vestia uma camisa social
branca. Era possível ver o sutiã, comportado, da menina de quinze anos. Uma
saia xadrez vermelha e verde escuro, meias brancas e tênis (All Star)
completavam a vestimenta.
- Bom dia, Paula. Gostou da noite? –
Cumprimentou a menina que, assim que o viu, correu até o elevador, que recém
havia chegado ao andar.
- Vai te foder, seu otário. – Passou
gesticulando com o dedo médio erguido e os cabelos louros e molhados que
deixavam manchas úmidas na camisa à altura dos ombros. Entrou no elevador,
apertou o térreo e pressionava repetida e ansiosamente o botão que comanda o
fechamento das portas automáticas, sem desfazer a cara de poucos amigos e o
gesto obsceno.
- Sempre uma simpatia... – Geraldo
falou ao entrar no apartamento.
- Eu não entendo... A noite sai até
para assassinar comigo. Durante o dia, manda me foder ou fingem que não me
conhecem.
- Por isso prefiro os homens... –
Respondeu o amigo – Agora fecha essa merda de porta que eu preciso dormir na
minha cama. Estou todo dolorido. - Álvaro fechou a porta.
O sol já se punha, quando batidas na
porta despertaram Álvaro de seu descanso. Abriu-a e as meninas entraram
sorridentes, cada uma dando-lhe um caloroso beijo. O rapaz recuperou-se da
depressão da manhã instantaneamente. Como lhe faziam bem essas duas mulheres!
- Adivinha só! Descobri uma farmácia
bem fácil! – Paula falou
- Como assim? – perguntou o rapaz.
- É só um velho que fica lá à noite.
Passamos na frente ontem, lembra? – Jéssica emendou
- Ah não! Não vou matar mais
ninguém!
- Relaxa, não precisa matar ninguém.
É só pegar a grana e sair... É SÓ UM VELHO, ÁLVARO! – Geraldo tranquilizou,
levantando-se da cama.
- Ok, ok! Mas sem arma dessa vez!
- Você que sabe... – falou o amigo.
Assim, o quarteto foi às ruas. A lua
era minguante e os carros ainda engarrafavam o trânsito. Um cachorro mijava num
poste e barulhos de tiros vindo de um beco ecoavam no quarteirão.
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