sábado, 20 de julho de 2013

"Algo que você não consegue entender" - Álvaro pt.2 de 2

           No outro dia, por volta das sete da manhã, cerca de duas horas depois de pegar no sono, o sol da manhã invadia o pequeno quarto fazendo Álvaro acordar. Como sempre, nenhuma das duas meninas estava ali, o que entristecia o rapaz. Lembrou que Geraldo, seu melhor amigo estava, provavelmente, dormindo na soleira da porta de entrada. Atravessou o apartamento revirado. Sorriu com as lembranças da orgia recente e abriu a porta. Geraldo assustou-se e acordou de supetão. Estava dormindo sentado e escorado na porta e, quando Álvaro abriu-a, quase caiu de costas. Álvaro deu uma risada.
            - Vem, companheiro, vamos para dentro.
            - Demorou, porra.
            - Obrigado por liberar o AP...
            - Me deves três, já.
            Nesse meio tempo, Jéssica sai de um apartamento vizinho e passa, encarando Álvaro, com uma expressão de espanto no rosto. Assim que o rapaz olhou, ela desviou o olhar imediatamente, e apertou o passo em direção ao elevador.
            - Bom dia, Jéssica – cumprimentou a bela morena que trajava um vestido curto (até os joelhos) branco estampado com grandes flores púrpuras e generosamente decotado.
            A mulher não respondeu. Inclusive desistiu de esperar o elevador e rumou para as escadas, que assim que começou a descê-las, fazia com que o “toc-toc” dos sapatos de salto diminuíssem gradativamente o volume.
            - Sempre te esnoba depois da noitada... – Geraldo falou.
            - É... – concordou tristonho.
            Em seguida, Paula saiu de outro apartamento, vestida com seu uniforme colegial. Vestia uma camisa social branca. Era possível ver o sutiã, comportado, da menina de quinze anos. Uma saia xadrez vermelha e verde escuro, meias brancas e tênis (All Star) completavam a vestimenta.
            - Bom dia, Paula. Gostou da noite? – Cumprimentou a menina que, assim que o viu, correu até o elevador, que recém havia chegado ao andar.
            - Vai te foder, seu otário. – Passou gesticulando com o dedo médio erguido e os cabelos louros e molhados que deixavam manchas úmidas na camisa à altura dos ombros. Entrou no elevador, apertou o térreo e pressionava repetida e ansiosamente o botão que comanda o fechamento das portas automáticas, sem desfazer a cara de poucos amigos e o gesto obsceno.
            - Sempre uma simpatia... – Geraldo falou ao entrar no apartamento.
            - Eu não entendo... A noite sai até para assassinar comigo. Durante o dia, manda me foder ou fingem que não me conhecem.
            - Por isso prefiro os homens... – Respondeu o amigo – Agora fecha essa merda de porta que eu preciso dormir na minha cama. Estou todo dolorido. - Álvaro fechou a porta.

            O sol já se punha, quando batidas na porta despertaram Álvaro de seu descanso. Abriu-a e as meninas entraram sorridentes, cada uma dando-lhe um caloroso beijo. O rapaz recuperou-se da depressão da manhã instantaneamente. Como lhe faziam bem essas duas mulheres!
            - Adivinha só! Descobri uma farmácia bem fácil! – Paula falou
            - Como assim? – perguntou o rapaz.
            - É só um velho que fica lá à noite. Passamos na frente ontem, lembra? – Jéssica emendou
            - Ah não! Não vou matar mais ninguém!
            - Relaxa, não precisa matar ninguém. É só pegar a grana e sair... É SÓ UM VELHO, ÁLVARO! – Geraldo tranquilizou, levantando-se da cama.
            - Ok, ok! Mas sem arma dessa vez!
            - Você que sabe... – falou o amigo.

            Assim, o quarteto foi às ruas. A lua era minguante e os carros ainda engarrafavam o trânsito. Um cachorro mijava num poste e barulhos de tiros vindo de um beco ecoavam no quarteirão.

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