- Acho a Madonna uma ridícula. –
Disse Paulo, enquanto caminhava ao lado de Greice, e do lado esquerdo do cordão
da calçada.
- Ah... Não fala da Madonna... –
Greice falou com uma tristeza na voz.
- Veja, ela tem 60 anos já.
- E?
- Bem, ela age como se tivesse...
Sei lá... 20... Se acha a Britney Spears em início de carreira.
- As músicas são inteligentes...
- Concordo. Mas eu me refiro ao
visual.
- Ela tem dinheiro e pode ficar
jovem do jeito que conseguir pagar. Toda mulher sonha com isso na metade da
idade dela.
- ... Eu sei... O que eu quero dizer
– falou mais alto enquanto uma moto passava barulhentamente por eles – é que
ela não assume a idade. As roupas... O cabelo... Aqueles collants... Iguais aos
que ela usava quando cantava “Like a virgin”... Meu Deus! Visão do inferno.
- Queres que ela use o que? Avental
de cozinha e xales? Hahaha! Ela vai aparecer na TV, não esquece.
- Como se mulher de 60 anos usassem
somente aventais e xales...
- Eu sei, só estou brincando contigo.
Entendi o teu ponto. Pensando por esse lado...
- Imagina se a gente passa por uma
vovó agora usando uma calça de couro ou uma legging... Branca! ARGH!
- Hahahaha! É o mesmo que ver os
vovôs do rock sem camisa. – Greice fez uma cara de nojo.
- Mas eles se aposentam antes dos
60... Com raras exceções. Ou morrem... - Titubeou - Aos vinte e poucos...
- Fato...
Caminharam em silêncio por algum
tempo. Paulo não sabia precisar. Greice não pareceu se importar, mas Paulo
sim. Estava apaixonado por essa Polaca de farmácia de olhos castanhos.
Olhava a paisagem em busca de inspiração para puxar assunto. Aquele maldito
momento onde se está com quem se nutre uma forte paixão e, simplesmente não
sabe o que dizer. Olhou para uma praça a sua esquerda. Apenas um bando de
garotos jogando futebol. Três dentro três fora, em uma goleira sem redes, para
ser mais exato.
A mutês continuava e isso o
incomodava... Essa falta de assunto.
De repente, uma guria se aproxima.
Ele tem um choque:
- Meu Deus!
- Que foi? – Greice pergunta.
- Aquela guria... – Falou alto.
- Estás falando alto! Cala a boca! –
cochichou intensa e encabuladamente.
- Ih, foi mal! – Avexou-se
A guria passou encabulada pelo
casal, devido o esparro do Paulo, porém, deu uma leve encarada nele. Greice
sentiu-se enciumada com a situação.
- Ela é igual a Kelly! – falou
Paulo.
- Que Kelly?
- Do “Misfits”. Só que morena.
- Não reparei. Fiquei com vergonha
de olhar, depois do teu esparro.
- Foi mal.
- Tudo bem...
- Chegaram à parada de ônibus.
Ficaram em silêncio. Aquele silêncio novamente, que paira sobre os casais
apaixonados, onde um está a fim do outro, mas ambos são estúpidos o bastante
para não perceberem a reciprocidade.
A parada fica em frente a uma
padaria/sorveteria/cafeteria. Uma menina de cerca de dez anos de idade, cabelos
compridos castanhos e até as costas, com uniforme do colégio, calças azuis -
claras e camisa branca de manga curta, passou correndo pelos dois. Depois
outra, provavelmente perseguindo a amiga, ou irmã, porque eram muito parecidas.
Greice percebeu que Paulo estava
perdido em pensamentos. Resolveu perguntar sobre o que se passava ali em marte,
lugar onde ele provavelmente estava, para puxar assunto, tomar uma iniciativa,
pois percebeu que Paulo era realmente muito tímido, e que ele nunca tomaria a
iniciativa. Não era seu costume dar o primeiro passo, mas não se importou.
Julgou que o rapaz valeria a pena.
- Alô, alô! Terra chamando Paulo.
- Oh, me desculpe! Estava
distraído... – corou.
- Não foi nada... Quer compartilhar
o que pensava? – A falsa loura deu um sorriso realmente lindo.
- Ahm... Ah... É que... Aquelas
guriazinhas me fizeram pensar numa coisa...
- Pode falar. – Greice manteve o
sorriso.
- Eu tava pensando sobre o futuro
delas. Que elas se tornariam máquinas de fazer sexo e sedutoras/devoradoras de
homens. Arrumarão um namorado daqui uns três anos. Fugirão de casa para foder e
ficarão grávidas. Depois, de repente, voltam para casa, deixando para os avós
criarem a criança, arrumam um novo namorado e voltam a foder. Na verdade, a
culpa não é delas. Está na TV, nos canais infanto-juvenis, nas músicas mais
tocadas nas rádios, nas lojas de roupas, nas escolas, no shopping center, na igreja, seja evangélica, católica
ou o diabo que for, e nos próprios adultos. Talvez seja impossível fugir disso...
Nah... Existem ainda os cemitérios.
Greice sentiu que seu sorriso ia se
desfazendo assim que Paulo construía o seu parágrafo. Ela não disse
nada. Nem concordou e nem meneou com a cabeça. Ficaram em silêncio novamente.
Então o ônibus chegou. Paulo subiu e
Greice se despediu dele.
Ele nunca mais a viu.