Estava tudo calmo no centro de
comando quando, de repente, o alarme dispara. O caos toma conta. Soldados com
seus uniformes brancos correm de um lado para o outro, profissionais altamente
especializados no maquinário tomam seus lugares, e o general sai de dentro de
sua sala, com um copo com uma dose de whisky vagabundo (com gelo) na mão
direita e um charuto na esquerda.
- Capitão Ribons! Situação? – Grita
o arrogante general.
- Senhor, a fricção externa está
causando um aumento da pressão e a temperatura está aumentando gradualmente.
Ainda é estágio inicial.
- E os novos recrutas?
- Estão se preparando para a missão.
- E o canhão?
- Já está sendo erguido. Neste exato
momento em que falamos, um destacamento está se encarregando da preparação para
o disparo.
- Muito bem, capitão. Não me
decepcione. Já erramos o alvo incontáveis vezes somente nessa semana. E o nosso
retrospecto geral não é nada bom também.
Nesse momento, o tenente Baahls se aproxima
e interrompe a conversa.
- Senhor – bateu continência –
temperatura e pressão estão se aproximando dos níveis críticos. Canhão
preparado e pronto para disparar.
- E os recrutas? – Perguntou o
general, sem muita paciência.
- Ainda não estão prontos – rebateu
de forma cordial.
Nesse momento, recruta Zé conversava
com um companheiro de batalhão. Estava excitado, muito ansioso e confiante.
- Dessa vez vamos conseguir. Tenho
certeza que o nosso pelotão vai dar glória a essa unidade.
- Como pode ter tanta certeza? Até
hoje essa unidade nunca acertou o alvo. Pra falar a verdade, eu nem sei o que
estou fazendo aqui.
- O general já traçou o plano, você
estudou ele?
- General... Enquanto o supremo
comando não se der conta que só erramos por causa deles mesmo... Não há general
que consiga traçar um bom plano.
- O que quer dizer?
- Quero dizer que, provavelmente, é
mais uma missão suicida.
- Como pode ter tanta certeza?
- Antes de vir para esse regimento,
já vi vários contando glórias de que seriam os primeiros a acertar o alvo, mas
nunca chegaram nem perto. Não pode ser culpa de cada um de nós recrutas e...
O general invade a sala e começa a
berrar ordens.
- Vamos, seus vermes incompetentes!
Estamos prestes a disparar e não tem metade de vocês na estação de lançamento!
Seus imprestáveis! – Assim, os recrutas, em total caos, correm para as saídas
em direção a estação de lançamento. Zé segue a conversa com o colega.
- Decorou o mapa? – Perguntou.
- Nem me dei o trabalho.
- Nossa, cara, nossa missão é de
extrema importância... Devias te orgulhar... Olha aqui, eu fiz uma cópia para
mim, apesar de ter decorado já, queres?
- Tanto faz... – O colega pegou o
mapa e o guardou no bolso do uniforme.
Na estação de lançamento, o capitão
Ribons, utilizando-se de um megafone, passava as últimas instruções, dividindo
os recrutas em pelotões. Zé e o amigo ficaram no segundo grupo.
- O canhão não suporta que todos
vocês sejam lançados ao mesmo tempo, assim, pelas nossas contas, serão
necessários três disparos para enviá-los ao território. Por uma maior chance de
sucesso, os dois primeiros disparos terão a capacidade máxima permitida, o
último grupo estará mais desfalcado, mas não será problema, uma vez que os dois
primeiros grupos já deixarão o caminho mais limpo e também recursos extras. Se
necessário, utilizem-nos. Uma boa sorte a todos e honrem o uniforme que vocês
vestem! – Assim, um grande grito de “URRAAA!” ecoou pela estação de lançamento.
- Capitão, pressão está em noventa e
nove por cento. É agora. – Um sargento informou Ribons.
- Aos seus postos! Aos seus postos!
– Berrou no megafone, depois virou para o tenente Baahls e avisou-o, dessa vez
sem o uso do megafone – Ao meu sinal... – Olhou para o General que aguardava
observando os níveis de pressão em uma espécie de barômetro analógico. Cinco
segundos depois, o general fez o sinal, e o capitão deu a ordem.
O primeiro pelotão foi lançado pelo
canhão e, menos de um segundo depois, o pelotão do recruta Zé é projetado.
Zé recordava o mapa e todas as
instruções e do treinamento de esquiva dos produtos químicos. Estava confiante.
Foi despertado de suas memórias quando uma enorme força o fez voar pelo canhão.
Feliz, ele se preparou para a aterrissagem... Quando saiu pelo canhão, observou
que o ambiente encontrado não era o esperado. Estava voando pelos ares, em
direção a um oceano infinito. Assustado e sem saber como reagir, acabou se
chocando contra a água. O desespero dos pelotões era evidente. Não tinham sido
treinados para isso. Não se alistaram para isso. Alguns pediam por suas mães.
Outros se afogavam. O caos. O terceiro batalhão chegou e tiveram a mesma
surpresa e a mesma sina. Zé lutava para se manter flutuando.
De repente um barulho infernal, como
o de mil bombas estourando ao mesmo tempo e, em seguida, um redemoinho colossal
começou engolir a tudo e a todos. Os homens gritavam. Milhares. Não. Milhões de
jovens soldados foram arremessados para morrer por causa de uma falha no plano
do Supremo Comando. O nível da água começou a baixar a uma velocidade
impressionante. Zé, em seus últimos suspiros de vida avistou uma caverna, para
onde toda a água estava sendo levada e, em seguida, tudo escureceu.
Cara, coisa de louco.
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